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Crédito, Reuters
- Author, Frank Gardner
- Role, Repórter de segurança, BBC News
Neste sábado (14/6), o exército israelense afirma que sua Força Aérea segue realizando “ataques extensivos em várias áreas do Irã” e a imprensa iraniana relata que a rede de defesa do país está sendo ativada.
Bahram Sarmast, governador da província do Azerbaijão Oriental, no noroeste do Irã, afirma que 31 pessoas morreram no local, incluindo 30 militares e um membro do Crescente Vermelho Iraniano.
Sarmast também afirma que 55 pessoas ficaram feridas até o momento, enquanto a televisão estatal iraniana relata que 60 pessoas, incluindo 20 crianças, foram mortas em um ataque israelense a um prédio em Teerã.
O enviado do Irã às Nações Unidas disse na sexta-feira (13/6) que os ataques israelenses mataram 78 pessoas e feriram mais de 320, mas a BBC não pôde confirmar esses números de forma independente.
O Irã ainda não divulgou um número total oficial de vítimas desde o início da operação militar israelense, mas, para o país, este é o maior ataque ao seu território desde a Guerra Irã-Iraque (1980-1988).
Horas antes do amanhecer na sexta-feira, a Força Aérea Israelense atacou não apenas locais relacionados ao programa nuclear iraniano, mas também as defesas aéreas e as bases de mísseis balísticos do país, para reduzir a capacidade de retaliação do Irã.
Em terra e nas sombras, a rede de operações que trabalha para o Mossad, a agência de inteligência internacional de Israel, teria ajudado a identificar a localização exata de figuras-chave do comando militar e cientistas nucleares.
O Irã afirma que pelo menos seis dos seus cientistas também foram mortos no ataque.
Novamente, o serviço de espionagem israelense demonstrou ter penetrado com sucesso no coração do setor de segurança do Irã, provando que ninguém ali está seguro.
Crédito, Reuters
Como parte deste ataque, o Mossad supostamente conseguiu lançar drones de dentro do território iraniano.
Os alvos principais de toda a operação foram a fábrica de enriquecimento nuclear de Natanz e as bases pertencentes à Guarda Revolucionária Islâmica. Para os estrategistas militares israelenses, isso já era aguardado há muito tempo.
No momento, o Irã cambaleia e esta pode ser apenas a primeira onda de ataques.
Deve haver muitos outros alvos em potencial na lista de prioridades de Israel, embora alguns possam estar além do seu alcance, profundamente enterrados no solo, em bases reforçadas abaixo de rocha sólida.
Mas o que levou a este ataque de Israel? E por que ele aconteceu agora?
O programa nuclear iraniano
Israel e diversos países ocidentais suspeitam que o Irã esteja trabalhando secretamente rumo ao chamado ponto de não retorno no desenvolvimento de uma arma nuclear viável.
O Irã nega as acusações e sempre defendeu que seu programa nuclear civil, que recebeu apoio da Rússia, se destina apenas a fins pacíficos.
Há mais de uma década, Israel vem tentando, com variado grau de sucesso, retardar o progresso nuclear do Irã.
Cientistas iranianos têm sido misteriosamente assassinados por agressores desconhecidos.
Em 2020, por exemplo, o chefe militar do programa nuclear do Irã, o brigadeiro-general Fakhrizadeh, foi morto por uma arma disparada por controle remoto em uma estrada isolada perto da capital iraniana.
Anteriormente, hackers americanos e israelenses conseguiram inserir um vírus de computador devastador, chamado Stuxnet, em centrífugas de enriquecimento de urânio iranianas, fazendo com que elas girassem sem controle.
Crédito, Getty Images
Esta semana, o órgão regulador nuclear da ONU, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), descobriu que o Irã não está cumprindo suas obrigações de não proliferação e ameaçou levar o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Muitas das preocupações sobre o programa nuclear iraniano vêm do estoque de urânio altamente enriquecido do país.
Seu enriquecimento atinge 60%, muito acima do nível necessário para gerar energia nuclear para uso civil e a um passo relativamente curto para o nível necessário para começar a construção da bomba.
Mas o atual presidente, Donald Trump, chamou o acordo de “o pior do mundo”. E, ao assumir a presidência, ele retirou os Estados Unidos do tratado.
No ano seguinte, o Irã deixou de cumprir com suas cláusulas.
Ninguém fora do Irã deseja que a República Islâmica tenha a bomba nuclear.
Israel é pequeno e grande parte dos seus 9,5 milhões de habitantes estão concentrados em áreas urbanas. O país considera que o Irã com armas nucleares representa uma ameaça existencial.
Israel relembra as diversas declarações de figuras importantes do Irã pedindo a destruição do Estado judaico.
A Arábia Saudita, a Jordânia e os países árabes do Golfo não dão muita importância para o regime revolucionário da República Islâmica do Irã, mas aprenderam a conviver com o país vizinho.
Crédito, Reuters
Agora, os países da região estão extremamente nervosos com os riscos de que o conflito se espalhe até os seus limites.
Para Israel, o momento foi fundamental.
O Irã já estava enfraquecido pela derrota ou eliminação dos seus aliados e representantes no Líbano, Síria e na Faixa de Gaza. E suas defesas aéreas ficaram muito comprometidas depois dos ataques israelenses de outubro passado.
Na Casa Branca, Donald Trump é um presidente solidário a Israel e, por fim, o país supostamente temia que uma parte importante do equipamento de enriquecimento de urânio do Irã estivesse a ponto de ser transportada para o subsolo.
Quais os próximos passos?
O objetivo israelense com esta operação é claro. O país pretende, pelo menos, retardar o programa nuclear iraniano em alguns anos. Mas o ideal seria impedi-lo por completo.
Também haverá, entre os círculos militar, político e de inteligência de Israel, aqueles que esperam que esta operação possa enfraquecer a liderança iraniana, a ponto de que ela entre em colapso, abrindo as portas para um regime mais benigno que não mais represente uma ameaça na região. Mas isso pode ser uma ilusão da parte deles.
O presidente Trump declarou na sexta-feira (13/6) que o Irã terá uma “segunda chance” para chegar a um acordo.
A sexta rodada de negociações entre os Estados Unidos e o Irã estava programada para ocorrer no domingo (15/6) em Mascate, capital de Omã, mas Israel não deu muita importância a esses diálogos.
No sábado, o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, disse em conversa com o presidente francês, Emmanuel Macron, que o Irã não se sentará à mesa de negociações enquanto os ataques de Israel continuarem.
Mais cedo, o ministro das Relações Exteriores de Omã, Badr Albusaidi, já havia dito que a rodada de negociações marcada para domingo não seria realizada.
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Da mesma forma que a Rússia é acusada de ludibriar Trump em relação às conversações de paz com a Ucrânia, Israel acredita que o Irã faz o mesmo.
O Estado judaico acredita que esta seja a melhor e, talvez, sua última chance de eliminar o suposto programa iraniano de armas nucleares.
“Os ataques sem precedentes do Irã contra Israel na noite passada [sexta-feira] se destinavam a eliminar as chances do presidente Trump de chegar a um acordo para conter o programa nuclear iraniano”, segundo Ellie Geranmayeh, especialista em política do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR, na sigla em inglês).
Para ela, “fica claro que o momento e a natureza em larga escala dos ataques se destinava a tirar as negociações totalmente dos trilhos”.
Washington se adiantou para esclarecer para o Irã que os Estados Unidos não estavam envolvidos nos ataques.
Mas, se o Irã decidir retaliar contra alguma das muitas bases americanas na região, diretamente ou através dos seus aliados, existe o risco de que os EUA sejam arrastados para mais um conflito no Oriente Médio.
O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, prometeu “punição rigorosa” a Israel. Mas o Irã ocupa uma posição muito mais fraca hoje do que dois anos atrás e suas opções de retaliação são limitadas.
Possível corrida nuclear
Mas existe aqui um risco ainda maior. A operação israelense ainda poderá sair pela culatra e acionar uma corrida nuclear.
Autoridades linha-dura do setor de segurança iraniano defendem há muito tempo que a melhor forma de dissuasão contra futuros ataques de Israel ou dos Estados Unidos seria obter a bomba nuclear. Eles certamente observaram o diferente destino dos líderes da Líbia e da Coreia do Norte.
Em 2003, o coronel líbio Muammar Gaddafi (1942-2011) desistiu do seu programa de armas de destruição em massa.
Já a Coreia do Norte desafiou todas as sanções internacionais e construiu um formidável arsenal de ogivas nucleares e mísseis balísticos internacionais, suficiente para fazer qualquer possível oponente pensar duas vezes.
Sejam quais forem os danos causados pela Operação Leão Crescente, se o regime iraniano sobreviver – e ele já superou outras adversidades no passado –, existe o risco de que os ataques de Israel acelerem a corrida para a construção e até mesmo o teste de uma bomba nuclear.
Se isso acontecer, haverá quase inevitavelmente uma corrida pelas armas nucleares no Oriente Médio, com a Arábia Saudita, a Turquia e, possivelmente, o Egito concluindo que também precisam da bomba.