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Crédito, Imagem cedida à BBC
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- Author, Lucy Williamson
- Role, Correspondente da BBC no Oriente Médio, em Jerusalém
Um ex-contratado de segurança dos novos e controversos centros de distribuição de ajuda em Gaza — apoiados por Israel e pelos EUA — disse à BBC que testemunhou colegas abrindo fogo diversas vezes contra palestinos famintos que não representavam ameaça alguma, inclusive com metralhadoras.
Em uma ocasião, ele relatou que um guarda disparou de uma torre de vigilância com uma metralhadora porque um grupo de mulheres, crianças e idosos estava se afastando do local muito lentamente.
A fundação encaminhou uma declaração dizendo que nenhum civil jamais foi alvo de disparos nos centros de distribuição da GHF.
A GHF iniciou suas operações em Gaza no final de maio, distribuindo ajuda limitada a partir de vários locais no sul e centro da Faixa de Gaza. Isso ocorreu após um bloqueio total de 11 semanas imposto por Israel, durante o qual nenhum alimento entrou no território.
O sistema tem sido amplamente criticado por forçar um grande número de pessoas a atravessar zonas de combate ativas até um número reduzido de centros. Desde o início das operações da GHF, forças israelenses mataram mais de 400 palestinos que tentavam obter ajuda alimentar nesses locais, segundo a ONU e médicos locais. Israel afirma que o novo sistema de distribuição impede que a ajuda chegue ao Hamas.
O ex-contratado afirmou que, enquanto guardas atiravam contra um grupo de palestinos em um dos centros da GHF, outro contratado no local, em pé sobre o barranco com vista para a saída, disparou de 15 a 20 tiros com arma automática contra a multidão.
“Um homem palestino caiu no chão, imóvel. E então o outro contratado que estava ali disse: ‘Droga, acho que você acertou um’. E depois riram disso.”
O contratado, que falou sob condição de anonimato, disse que os gestores da GHF minimizaram seu relato, tratando-o como coincidência, sugerindo que o homem palestino poderia ter “tropeçado” ou estar “cansado e desmaiado”.
A GHF afirmou que o autor das denúncias é um “ex-contratado insatisfeito” que teria sido demitido por má conduta, o que ele nega. Ele mostrou comprovantes de pagamento indicando que continuou recebendo salário por duas semanas após deixar o cargo.
Crédito, Imagem cedida à BBC
O homem com quem conversamos, que disse ter trabalhado nos quatro centros de distribuição da GHF, descreveu uma cultura de impunidade, com poucas regras ou controles.
Ele afirmou que os contratados não recebiam regras claras de engajamento nem procedimentos operacionais padrão, e que um líder de equipe teria dito: “Se você se sentir ameaçado, atire — atire para matar e pergunte depois”.
A cultura da empresa, segundo ele, era como se “estivéssemos entrando em Gaza, então não há regras. Faça o que quiser.”
“Se um palestino está se afastando do local e não demonstra nenhuma intenção hostil, e mesmo assim estamos atirando tiros de advertência, estamos errados, estamos sendo criminalmente negligentes”, disse.
Ele afirmou que cada centro tinha câmeras de vigilância monitorando a atividade na área, e que a insistência da GHF de que ninguém havia sido ferido ou alvejado era “uma mentira descarada”.
A GHF afirmou que os tiros ouvidos nas imagens compartilhadas com a BBC vinham das forças israelenses.
Líderes de equipe se referiam às pessoas de Gaza como “hordas zumbis”, disse o ex-contratado, “insinuando que essas pessoas não têm valor”.
Ele também relatou que palestinos estavam sendo feridos de outras formas nos centros da GHF, por exemplo, atingidos por estilhaços de granadas de efeito moral, com spray de pimenta ou empurrados pela multidão contra arame farpado.
Ele disse ter testemunhado várias ocasiões em que palestinos pareceram ter se ferido gravemente — incluindo um homem que levou uma lata inteira de spray de pimenta no rosto e uma mulher que, segundo ele, foi atingida por uma peça metálica de uma granada de efeito moral, disparada de forma inadequada contra a multidão.
“Essa peça metálica a atingiu diretamente na cabeça e ela caiu no chão, sem se mover”, disse ele. “Não sei se ela morreu. Sei com certeza que estava inconsciente e completamente imóvel.”
Crédito, Reuters
No início desta semana, mais de 170 instituições de caridade e ONGs pediram o encerramento da GHF. As organizações, incluindo Oxfam e Save the Children, afirmam que forças israelenses e grupos armados “rotineiramente” abrem fogo contra palestinos em busca de ajuda.
Israel nega que seus soldados atirem deliberadamente em pessoas que recebem ajuda e afirma que o sistema da GHF fornece assistência direta a quem precisa, contornando a interferência do Hamas.
A GHF afirma ter entregue mais de 52 milhões de refeições em cinco semanas e que outras organizações “ficam impotentes enquanto sua ajuda é saqueada”.
O exército israelense lançou uma ofensiva em Gaza em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 feitas reféns.
Desde então, pelo menos 57.130 pessoas foram mortas em Gaza, segundo o ministério da saúde do território, controlado pelo Hamas.
Com reportagem adicional de Gidi Kleiman e Samantha Granville