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Crédito, José Cruz/Agência Brasil
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- Author, Rute Pina
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
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Por dois dias, bolsonaristas bloquearam os trabalhos do Congresso Nacional, em reação à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Senadores da oposição decidiram desocupar o plenário principal da Casa na manhã desta quinta-feira (7/8), após quase 48 horas de ocupação.
Na Câmara, o funcionamento foi retomado na noite de quarta-feira (6/8), depois de empurra-empurra e tentativa do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) em demonstrar força.
Com esparadrapos na boca, parlamentares da oposição chegaram a sentar nas mesas diretoras para impedir o funcionamento da Câmara e do Senado durante o motim, liderado pelo PL e que ganhou apoio do União Brasil, PP e do Novo.
O objetivo era pautar, principalmente, três propostas: a anistia a envolvidos na tentativa de golpe de Estado, o impeachment contra Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e mudanças no foro privilegiado.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, e aliados chamaram as reivindicações de “pacote da paz”.
Durante a obstrução dos oposicionistas, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), afirmou que não aceitaria intimidações ou tentativas de desestabilizar o Senado.
“O Parlamento não será refém de ações que visem desestabilizar seu funcionamento. A democracia se faz com diálogo, mas também com responsabilidade e firmeza”, disse em nota.
Na Câmara, Motta chegou a ameaçar acionar a Polícia Legislativa e suspender por seis meses parlamentares que tentavam impedir os trabalhos da Casa.
Para o analista político Creomar de Souza, sócio-fundador da consultoria Dharma e professor da Fundação Dom Cabral, a mobilização dos bolsonaristas é um reflexo direto da perda de controle do grupo político sobre a pauta do Congresso.
“Tivemos um período em que o bolsonarismo perdeu o protagonismo no debate público. Isso é algo muito novo”, afirma. “Para essa ala, a preocupação não é que a pauta avance em termos reais. A preocupação é a capacidade de criar tumulto, confusão, monopolizar atenções.”
O motim também revela, para o analista político, a fragilidade tanto da base do governo no Legislativo quanto das figuras de Motta e Alcolumbre.
“Esse aglomerado de parlamentares que a gente chama de bolsonarismo no Legislativo entendeu como a regra do jogo funciona. E, a partir daí, tem construído ações para obstaculizar o jogo.”
A pouco mais de um ano das eleições de 2026, Souza afirma que o Congresso deve se dividir em duas forças.
“Vamos ter um Executivo muito preocupado em aprovar rapidamente pautas que sirvam de plataforma para o processo eleitoral”, analisa. “De outro lado, uma oposição que assume a tentativa de obstruir o processo a partir de uma pauta que gere mobilização.”
Para ele, o motim evidencia a importância das eleições legislativas no próximo pleito, especialmente no Senado.
“Valdemar Costa Neto [presidente nacional do PL] sempre deixou claro que o plano era ter pelo menos 51 senadores para, a partir daí, avançar com um processo de impeachment de membros da Suprema Corte. Se isso vai acontecer, não é possível dizer. Mas está todo mundo fazendo conta.”
Crédito, Julia Batista
BBC News Brasil – Como você avalia a articulação do bolsonarismo após a decretação da prisão domiciliar do Bolsonaro?
Creomar de Souza – Desde a declaração das sanções à economia e ao governo brasileiro pelo governo americano até o momento da prisão do Bolsonaro, tivemos um período em que o bolsonarismo perdeu o protagonismo no debate público. Isso é algo muito novo.
Em dois anos e meio de governo Lula, foram raríssimas situações em que o bolsonarismo esteve na defensiva, do ponto de vista do debate público. Mas tivemos um período em que o governo foi muito feliz no controle da pauta e dos termos do embate político.
A prisão de Bolsonaro dá ao bolsonarismo no Legislativo, que não é maioria na Câmara nem no Senado, mas é muito adensado, a possibilidade de fazer um movimento de retomada do debate.
Há duas questões subjacentes muito importantes. A primeira é como o bolsonarismo consegue jogar, teatrologicamente, com a captura das atenções. Por exemplo, parlamentares ocupando a Mesa Diretora com esparadrapos na boca, nos olhos, nos ouvidos. Há uma série de fotos que viram uma cartilha interessante da capacidade que eles têm de ocupar o imaginário dos seus militantes.
A segunda, derivada disso, é a construção de uma pauta que, se não é viável politicamente, serve como instrumento de adensamento da militância. Basicamente, a ideia de avançar um pedido de impeachment do Alexandre de Moraes.
Ciro Nogueira, que foi ministro da Casa Civil do Bolsonaro, disse que não gasta tempo com pautas que não vão prosperar. Só que, para essa ala mais bolsonarista — basicamente, as bancadas do PL na Câmara e no Senado —, a preocupação não é que a pauta avance em termos reais. A preocupação é a capacidade de criar tumulto, confusão, monopolizar atenções.
Nesse aspecto, me parece interessante é que, à medida que todas as atenções estavam voltadas para os bolsonaristas obstruindo trabalhos na Câmara e no Senado, ninguém discutiu que um deputado do PL está nos Estados Unidos fazendo lobby contra os interesses da economia brasileira.
BBC News Brasil — Como você avalia a força de Alcolumbre e Motta para negociar a desocupação do Congresso?
Souza — Duas questões me chamaram a atenção. Primeiro, foi a capacidade do bolsonarismo, com o Centrão, de colocar o presidente da Câmara contra a parede. E aí se destaca que, ao final do dia, a negociação não foi feita por ele — a negociação foi feita pelo Arthur Lira.
Isso demonstra a permanência do Arthur Lira [deputado federal pelo PP em Alagoas e ex-presidente da Câmara] como uma figura central, mesmo fora da cadeira, e um relativo processo de degradação da capacidade do Hugo Motta de ser visto como uma liderança institucional de fato, além da dificuldade dele em manter o controle sobre as lógicas do Parlamento.
Vale muito a pena prestar atenção a posição de alguns deputados bolsonaristas no momento em que o Hugo Motta discursava na mesa. Sobretudo o Nikolas [Ferreira, deputado do PL por Minas Gerais]: o quanto ele se sente, em algum sentido, muito à vontade e próximo, dando uma demonstração de que estava pressionando o presidente Hugo Motta.
Esses são elementos fundamentais, que provavelmente devem continuar se manifestando no âmbito legislativo: uma maior capacidade de força do bolsonarismo — que não é um grupo majoritário, mas que tem conseguido até aqui se aproveitar, em coalizão com o Centrão, das eventuais fragilidades tanto da base do governo no Legislativo quanto da própria figura do Hugo Motta, que até aqui não conseguiu se provar capaz de ter controle diante desse tipo de manifestação dentro da Casa.
Para o Alcolumbre, a situação também foi complicada diante da necessidade de desmobilização. Mas a diferença é que ele centralizou a discussão — não foi algo terceirizado para outra pessoa. Basicamente, foi ele debateu diretamente com senadores da base bolsonarista, como o Rogério Marinho e também o Ciro Nogueira.
Talvez o fato de o Senado ter um número menor de atores políticos facilite um pouco a construção da interlocução e do diálogo. Mas, em termos de análise, tanto ele quanto o Hugo Motta se veem hoje em uma situação de pressão crescente.
Me parece que esse aglomerado de parlamentares que a gente chama de bolsonarismo no Legislativo entendeu como a regra do jogo funciona. E, a partir daí, tem construído ações para obstaculizar o jogo — seja fazendo obstrução do ponto de vista legislativo, seja apelando para uma lógica mais teatrológica.
Crédito, ANDRE BORGES/EPA/Shutterstock
BBC News Brasil – Esse elemento performático dessas movimentações no Congresso já é também uma estratégia eleitoral mirando 2026?
Souza – Duas premissas são importantes quando falamos do bolsonarismo como movimento político e da sua ação cotidiana nos espaços institucionais, como o Legislativo.
A primeira: o bolsonarismo sempre foi performático. Em um mundo marcado por muita incerteza e por fragmentação de pautas, o bolsonarismo surge como uma versão brasileira desses movimentos de ordem global que, ao mesmo tempo em que contestam o sistema político, oferecem respostas muito objetivas, no sentido de serem simplistas, aos problemas concretos.
Isso quer dizer: o problema é a violência urbana? Vamos militarizar a polícia. Não precisa haver reflexão adensada, porque o bolsonarismo foi formatado para essa comunicação expressa nas novas redes.
O bolsonarismo é teatrológico, e tem capacidade de criar mecanismos de captura de atenção muito formatados para esse diálogo nas redes — como Instagram, TikTok, YouTube, WhatsApp.
O segundo elemento, derivado disso, responde à sua pergunta. Isso é uma preparação para 2026? Para o bolsonarismo, todo dia é dia de eleição.
Não existe a ideia de “subo o tom, ganho a eleição, normalizo a atividade política e dialogo com o diferente para aprovar uma agenda, e depois subo o discurso de novo”. Para o bolsonarismo, é espiral ascendente. Estão sempre dobrando a aposta e forçando o outro lado à defensiva como parte de um movimento de captura de atenção.
BBC News Brasil – O governo tem pautas importantes de sua agenda para votar, como a redução do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil. Qual o impacto deste movimento bolsonarista no Congresso sobre essas agendas?
Souza – Há dois elementos importantes. O primeiro é que se trata de um teste de estresse e de resiliência.
À medida que o governo parecia ter uma relação bem encaminhada neste segundo semestre para aprovar pautas importantes — tanto do ponto de vista administrativo quanto eleitoral, como o imposto de renda, a questão da conta de luz para os mais pobres, a PEC da Segurança Pública, uma eventual ampliação do [programa] Pé de Meia e outros temas —, o movimento do bolsonarismo põe à prova a força dessa coalizão do Planalto com as lideranças legislativas.
Por mais que eles não tenham votos para aprovar uma pauta como a anistia ou o impeachment do Moraes, até aqui eles têm conseguido criar constrangimento. E esse constrangimento impede que os trabalhos avancem.
O segundo é o fato de que o que o PL fez, tanto na Câmara quanto no Senado, expõe a fragilidade do poder das presidências das duas Casas. Em certo sentido, os presidentes da Câmara e do Senado hoje se assemelham mais a líderes sindicais de uma corporação do que a chefes de um poder institucional de fato. Porque, à medida que o nível de contestação sobe, as ferramentas para controlar a contestação se mostram muito limitadas.
O que vemos, então, é que o movimento feito pelos bolsonaristas nas últimas 48 horas tenta tirar proveito de um momento em que o governo poderia crescer em sua capacidade de defender os próprios interesses no Congresso. Ao mesmo tempo, testa a convicção das lideranças no Senado e na Câmara.
E há ainda um fator subjacente que vale destacar: o papel do corporativismo nas relações entre parlamentares. Ou seja, por mais que haja constrangimento em relação ao parlamentar que queira ir votar e fazer as pautas avançarem, no fim do dia, na conjuntura atual, a maioria dos parlamentares é contrária a qualquer tipo de sanção que coloque outros colegas em risco.
E isso cria uma armadilha: o indivíduo consegue usar os instrumentos que deveriam fomentar o debate para, justamente, obstaculizar o debate.
Crédito, Edilson Rodrigues/Agência Senado
BBC News Brasil – Esse corporativismo tem protegido Eduardo Bolsonaro? E como fica a situação dele após a prisão domiciliar do pai?
Souza – A situação do Eduardo é um retrato desse momento em que temos um protagonismo muito forte do Legislativo, que hoje detém muitos instrumentos de poder: fundo partidário, fundo eleitoral, emendas impositivas. Isso dá ao Parlamento muito poder relacional e financeiro.
Mas, em contrapartida, não vemos uma capacidade equivalente de responsabilização pelos próprios atos, sejam eles positivos ou negativos. Esse contexto acaba beneficiando o Eduardo. Porque qualquer movimento que possa ser visto como nocivo a um parlamentar desperta uma reação corporativa.
É óbvio que a distorção desse princípio de proteção acabou alimentando um risco importante para a democracia brasileira: a percepção, por parte da população, de que os parlamentares estão muito mais preocupados com os próprios destinos do que com as pautas do país.
No caso do Eduardo, há outros complicadores.
Primeiro: ele é filho de um ex-presidente ainda muito popular. Segundo: há uma disputa interna no bolsonarismo para saber quem será a figura mais proeminente em um cenário sem Bolsonaro. Terceiro: há um espaço de ação, especialmente com a Casa Branca sob [Donald] Trump, para o Eduardo ter interlocução e defender seus próprios interesses de maneira independente dos canais formais. E quarto: há uma base parlamentar e militante disposta a assumir uma defesa explícita do deputado, caso surja alguma ameaça concreta.
Hugo Motta deve ter pensado: “Esse cara não tem voto para ser cassado. E se não tem voto, por que abrir o processo?”. Abrir um eventual processo de cassação resultaria em mais visibilidade, mais protesto, mais confusão — e o colocaria em uma batalha que ele sabe que não pode vencer.
E aí aparece uma diferença importante entre forças políticas que atuam dentro do sistema e forças antissistêmicas.
Quem está dentro do sistema faz cálculo de oportunidade: “Não vale a pena, vou perder”. Quem é antissistema não tem essa preocupação. O que importa é ter uma pauta atrás da outra que mobilize e tenha grande apelo emocional. É esse apelo que transforma cada dia da atividade política em uma espécie de prévia eleitoral.
Crédito, REUTERS/Brian Snyder
BBC News Brasil – Com a condução de Lula em relação ao tarifaço, houve uma melhora na popularidade do presidente. Ele está cada vez mais à vontade para falar de 2026, dizendo que, se estiver bem de saúde, com certeza será candidato. Qual o impacto da prisão do Bolsonaro nesse contexto?
Souza – Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Podemos fazer especulações a partir do cenário atual, mas não tenho nenhuma ingenuidade de achar que consigo prever o que vai acontecer. O que posso dizer com alguma convicção é que a conjuntura, que vinha sendo muito hostil à administração Lula, virou — e essa virada começou com o tarifaço do Trump. A partir daí, há uma tentativa explícita da oposição de mudar a dinâmica do jogo com a prisão do Jair Bolsonaro.
E aí surge uma pergunta, também de um milhão de dólares: Bolsonaro provocou a própria prisão? Se considerarmos que seus advogados sabiam exatamente o que era permitido e o que não era, é possível dizer que sim, que foi um movimento premeditado. Porque, neste momento, tudo virou política. Tudo virou eleição.
Bolsonaro consegue retomar a iniciativa no debate político dizendo que foi injustiçado — esse é o núcleo do discurso dele desde que entrou para a política nacional: se colocar como vítima de um sistema elitista que tenta impedir que ele cumpra sua missão de “libertador” do país, ou algo semelhante.
Se aceitarmos essa premissa, de outro lado temos as ações do ministro Alexandre de Moraes, que também flertam constantemente com o limite do que seria sua prerrogativa constitucional. E isso por dois motivos.
Primeiro, porque a sociedade e o direito no Brasil nunca tiveram que lidar com esse tipo de fenômeno: uma liderança política que desafia diariamente as instituições, teve poder, e ameaça o prédio institucional de forma contínua. Segundo, porque há uma enorme dificuldade em julgar uma eventual tentativa de golpe de Estado.
Esse processo vai se adensando e tem um novo complicador: a volta do Trump à presidência dos EUA.
A partir disso, há uma triangulação interessante: o bolsonarismo no Brasil, uma diáspora conservadora na Flórida e tomadores de decisão nos EUA. Essa conexão pode ter dado a Eduardo Bolsonaro respaldo para fazer os movimentos que está fazendo — e, por extensão, alimenta no Jair Bolsonaro e em membros do PL a percepção de que “há um novo jogo no ar”.
Isso sustenta ações como o pedido de sanções da Lei Magnitsky contra Moraes. Sobre isso, reações da presidência da República, da Câmara e do Senado foram discretas. Isso mostra que estamos diante de algo novo na história política nacional: um processo que de uma ingerência de uma nação estrangeira sobre os rumos e decisões do Estado brasileiro, com apoio de políticos nacionais.
Agora, dois efeitos imediatos: o primeiro é que, nas primeiras semanas, o ganhador é o Lula. Conversei com uma pessoa do PT que disse: “É como se o Lula tivesse recuperado a paixão nos olhos. Esse é um embate que vale a pena. É um embate que ele conhece. É uma pauta em que ele sabe como se posicionar”. E ele assumiu o processo.
Mas, por outro lado, a oposição tenta reencontrar uma narrativa com a prisão do Bolsonaro. Então, com os dados de hoje, minha leitura é: a tendência para 2026 é que tenhamos um novo embate polarizado, com o lulopetismo de um lado e o bolsonarismo do outro.
Agora, quem serão os candidatos? Hoje, é difícil dizer. Lula tem a questão da saúde — que ele próprio menciona. E o bolsonarismo ainda gira em torno do Jair Bolsonaro. E quanto mais ele demora para declarar apoio a alguém, mais caro esse apoio será.
Isso cria uma dificuldade enorme para outros nomes da direita com pretensões presidenciais. Porque, mesmo que não concordem com as pautas do Bolsonaro, eles sabem: sem ele, não são viáveis.
Crédito, REUTERS/Adriano Machado
BBC News Brasil – E como fica o jogo para os governadores possivelmente presidenciáveis, como Tarcísio, Zema, Caiado, Ratinho Junior, com a prisão domiciliar e o julgamento próximo?
Souza – A direita no Brasil hoje é refém do bolsonarismo, que é um agrupamento familiar com muito carisma. Jair Bolsonaro é uma liderança carismática, que vendeu uma nova interpretação sobre do que é a política.
Tarcísio, Zema, Caiado, Ratinho Junior, qualquer outro nome que a gente possa lembrar têm diante de si um grande dilema: consigo me projetar nacionalmente sem o Bolsonaro? E aí, talvez, a resposta hoje seja não.
O bolsonarismo ainda é uma força política que captura pelo menos 30% do eleitorado, mas não é coeso em torno de um nome. O que acontece é que, para todos esses nomes, se torna quase que uma procissão de beija-mão ao Bolsonaro. Sem o apoio dele, eles não ganham a eleição ou não são competitivos na eleição.
Mas efetivamente há um outro problema, que é: qual o nível de apoio que o Bolsonaro dará, a partir do nível de demanda que ele tem diante desse elemento que é o papel do Eduardo e o acesso que o Eduardo tem, junto com outros, como o Paulo Figueiredo, à Casa Branca. Então esse me parece ser o dilema.
Então me parece que, assim como o debate eleitoral se antecipou muito, esse talvez seja um momento de depuração.
BBC News Brasil – E como deve ser a atuação do Congresso neste próximo ano até a eleição?
Souza – Vamos embate entre dois interesses distintos no Congresso.
De um lado, vamos ter um Executivo muito preocupado em votar e aprovar rapidamente pautas que sirvam de plataforma para o processo eleitoral, como a tabela do Imposto de Renda, a PEC da Segurança Pública.
De outro lado, uma oposição que, na ausência de uma pauta programática — pelo menos neste momento — vai assumir uma posição de tentar obstaculizar o processo a partir de uma pauta que gere mobilização. A questão do Alexandre de Moraes, neste momento, que pode virar outra coisa em breve.
O dilema me parece ser que esses dois grupos de interesse estarão em embate, e há ainda outra variável importante, que é o futuro das emendas impositivas, que está sob escrutínio do STF.
Antes das sanções, dava para dizer com alguma certeza que o ministro Dino assumiria uma posição tendente à inconstitucionalidade das emendas. Hoje, a gente não sabe qual será o impacto disso ao final do dia.
A eleição para o Congresso, para o sistema político, vai se tornando mais importante até do que a eleição presidencial. Sobretudo porque grupos políticos como o bolsonarismo e o petismo vão ter seus destinos fortemente vinculados ao processo eleitoral.
E o impacto institucional da eleição para o Senado, por exemplo, na relação entre Legislativo e STF, vai ser crítico.
O bolsonarismo sempre deixou muito claro e o Valdemar Costa Neto sempre deixou muito claro que o plano era ter pelo menos 51 senadores para, a partir daí, avançar com um processo de impeachment de membros da Suprema Corte. Se isso vai acontecer ou não, não é possível dizer.
Mas o fato é que o próprio governo, o PT e outros grupos acordaram para isso. E talvez estejam fazendo o mesmo: todo mundo está fazendo conta, tentando entender quem vai ter mais parlamentares.