Nicolas Bassoa, em ação no Meeting Paralímpico de Mato Grosso | Foto: Igor Fonseca/CPB
O Meeting Paralímpico de Cuiabá (MT), neste sábado, 3, levou 140 esportistas das modalidades atletismo e natação à Universidade Federal do Mato Grosso, onde foram realizadas provas para atletas de alto rendimento e para promessas do esporte paralímpico.
Um dos destaques do evento, organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), foi o jovem nadador Nicolas Bassoa, 15, ganhador de duas medalhas de ouro, nos 50m livre e nos 100m livre para a classe S10 (limitação físico-motora). Os pódios da competição foram ainda mais valiosos para o atleta, pois foram conquistados na fase final de seu tratamento médico para combater um Osteossarcoma , câncer ósseo diagnosticado quando ele tinha 11 anos.
A doença foi identificada em uma radiografia após o jovem sofrer uma queda de bicicleta. Ele explicou que o câncer surgiu no fêmur direito e deixou seus ossos frágeis, impedindo-o de andar sem apoio. Também chegou a apresentar metástases no pulmão. Foram mais de 200 sessões de quimioterapia e nove cirurgias até que ele estivesse próximo da alta.
Neste mês, Nicolas entra na etapa final do tratamento, quando irá passar por uma cirurgia de alongamento de fêmur em Ribeirão Preto (SP) para igualar o tamanho das duas pernas. Ele também deve retirar o cateter de seu peito, por onde recebeu medicação.
“Nadei como se não houvesse amanhã, para ter um resultado muito bom antes de minha viagem, pois devo ficar sem treinar por alguns meses. Adorei minha marca nos 50m, de 45s37. Este é meu recorde pessoal. Melhorei muito em relação ao que eu nadava nos treinos. Posso não ter chegado ainda aos 38 segundos, que são a minha meta, mas logo vou estar de volta às competições e vou para cima, buscar meus objetivos”
O atleta treina desde o início do ano passado na Universidade Federal do Mato Grosso. Chegou à modalidade após um amigo de sua mãe, Lourdes Bassoa, sugerir que ele buscasse o esporte paralímpico. Em 2024, chegou a participar das Paralimpíadas Escolares, maior evento esportivo para crianças com deficiência do mundo, como atleta do halterofilismo, que ele fazia em paralelo, mas contou ter preferido se dedicar apenas às piscinas por acreditar que, em sua idade, seria mais competitivo na natação, que também contribui com sua recuperação.
“A natação ajuda muito na movimentação da minha perna e no meu fortalecimento. Ela ajuda meu tratamento e também me permite buscar minhas conquistas. Após a cirurgia, vou voltar para a natação. Quando estiver recuperado, vou voltar com tudo, possivelmente para me tornar um atleta profissional”, afirmou.
“O esporte foi transformador na vida do Nicolas. Durante o tratamento, nem pensava que ele poderia fazer mais, além de vencer o câncer. Mas, no meio desse caminho, surgiu o esporte paralímpico, que é uma bênção para todos os atletas e principalmente para meu filho. Vejo ele com garra, animado, feliz e conquistando muitas vitórias”, afirmou Lourdes, mãe de Nicolas.
Nas provas do atletismo, um dos destaques foi o mato-grossense de Alta Floresta Diemerson Penha, 33, representante do clube IDESP e campeão brasileiro de 2024 na prova do lançamento de disco da classe F57 (competem sentados) com a marca de 36,63. O lançador conseguiu melhorar seu resultado na prova deste sábado, quando atingiu 37,91m.
“Modifiquei meus treinos. Mudei a pegada para lançar; também troquei o assento de minha cadeira por um almofadado e troquei as amarras; tudo isso ajudou bastante. Quero conseguir me manter bem no ranking nacional para chegar novamente no Campeonato Brasileiro deste ano, de 5 a 7 de dezembro, para chegar lá com chances de ganhar uma medalha novamente”, contou o atleta, que foi submetido a uma amputação na perna esquerda acima do joelho após um acidente de moto.
Na pista, o velocista Thallyson de Oliveira, 19, do Rondonópolis Associação de Atletismo e Esporte, competiu pela primeira vez desde que começou a treinar com seu novo guia, Vinicius Rodrigues Messias. A nova dupla obteve 12s30 nos 100m e 5,18m no salto em distância, ambos para a classe T11 (deficiência visual).
“Saio com a sensação de dever cumprido após superar minha meta de cinco metros no salto em distância. Mas sei que ainda dá e eu preciso melhorar bastante para pensar em daqui a alguns anos estar representando o Brasil nos próximos Jogos Paralímpicos em Los Angeles 2028”, disse o atleta.
O Meeting de Cuiabá teve tanto disputas válidas para o alto rendimento como também Seletivas Estaduais para as Paralimpíadas Escolares, as Paralimpíadas Universitárias e os Intercentros (competição entre alunos dos Centros de Referência do CPB com idade de 7 a 10 anos).
Em paralelo ao Meeting, a capital mato-grossense ainda recebeu uma etapa do Desafio Brasil de atletismo, competição realizada em parceria pelo CPB e pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), colocando lado a lado atletas paralímpicos e olímpicos.
O Meeting Paralímpico é organizado pelo CPB e tem o objetivo de desenvolver o paradesporto em todo o território nacional, com a participação de novos talentos e atletas de elite. É realizado desde 2021, como uma atualização dos tradicionais Circuitos Loterias Caixa, que aconteciam desde 2005. Entre abril e agosto deste ano, o evento irá passar por todos os estados e pelo Distrito Federal.
Durante o mês de abril, o evento teve etapas em Porto Alegre (RS), Rio Branco (AC), Florianópolis (SC) e Porto Velho (RO).
Em paralelo ao Meeting de Cuiabá, o CPB também realizou neste sábado uma etapa do evento em Curitiba (PR), com provas de atletismo, natação, halterofilismo e tiro esportivo.