Mulheres da cultura Hip-Hop de todas as regiões do país tiveram a oportunidade de dialogar com parlamentares e o Governo Federal sobre equidade de gênero, representatividade e visibilidade feminina no movimento. O debate ocorreu, nesta quarta-feira (10), na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, reunido representantes dos cinco elementos estruturantes dessa cultura: DJ, breaking, MC, graffit e conhecimento.
Entre as participantes, estavam mulheres contempladas no Edital de Premiação Cultura Viva Construção Nacional do Hip-Hop, lançado pelo Ministério da Cultura (MinC) em 2023. Essa iniciativa contemplou 325 iniciativas culturais, totalizando um investimento de R$ 6 milhões. Ao participar das discussões, a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg, reforçou o compromisso do Ministério da Cultura para atender as demandas do movimento.
Além da premiação, citou o Decreto Nº 11.784/2023, que traz as diretrizes para a valorização do Hip-Hop, o inventário participativo, realizado em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Política Nacional de Cultura Viva a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, entre outras ações.
“Estamos aqui para reafirmar essa importância das mulheres do Hip-Hop brasileiro e da continuidade desse movimento político, estético, contemporâneo, inovador e que resiste a todos os tipos de adversidade com inventividade. Falar de mulheres do Hip-Hop é também falar de interseccionalidade, é falar da presença das mulheres negras, indígenas, periféricas, lésbicas, trans, com deficiência e que, mesmo diante do machismo estrutural que atravessa a sociedade e próprio movimento da cultura hip-hop, seguem produzindo e resistindo”, explicou.
Prêmio Mulheres no Hip-Hop
Outro destaque da audiência foi o recém-lançado Prêmio Mulheres no Hip-Hop, promovido pelo Ministério das Mulheres.
O edital destinará R$ 3 milhões para reconhecer 65 iniciativas, sendo 20 prêmios individuais, no valor de R$ 26.250 mil cada, e 45 prêmios destinados a grupos, coletivos, crews e instituições privadas sem fins lucrativos, no valor de R$ 55 mil cada.
As inscrições foram abertas na quarta-feira, 9 de julho, e seguem até o dia 20. “É um edital específico. Então, apenas as mulheres podem se inscrever nessa ação afirmativa que é direcionado para valorização das mulheres no hip-hop”, explicou Ana Carolina Moreira, representante do Ministério das Mulheres.
Vozes do Hip-Hop
A audiência também foi marcada por falas potentes de mulheres atuantes no movimento Hip-Hop. A rapper sergipana Iza Negratcha, presidente da Frente Nacional das Mulheres no Hip-Hop, destacou a importância da contribuição das mulheres para a criação e evolução dessa cultura, mas também na promoção da autoestima e do empoderamento das mulheres. “A nossa luta é para dizer que nós estamos aqui. Eu costumo dizer aos meninos do Hip-Hop que nós não somos e não queremos ser mais do que ninguém, mais do que eles. Mas também não vamos aceitar ser menos. A gente entende eles como aliados e aliar é estar ao lado. Nós queremos visibilidade e reconhecimento nesse movimento tão grandioso e que salva vidas através do nosso trabalho cotidiano e dentro das periferias no Brasil”.
Com 33 anos de carreira, a rapper Vera Verônica, do Distrito Federal, reforçou a importância da escuta institucional. “Nós mulheres da cultura Hip-Hop já temos longa estrada em todos os estados. Essa audiência pública só reafirma que nós existimos. Estamos aqui pedindo, exigindo e sonhando com respeito, com valorização e com dignidade. Isso a política pública tem nos dado nesse governo, mas a gente ainda não tem voz e vez em muitos espaços. Por isso que se faz necessário esse tipo de atividade, onde a gente possa revelar os nossos anseios, os nossos desejos”, afirmou.
Para a DJ Deb Shuz, do Espírito Santo, é histórico esse momento de escuta. Destacou que, além de respeito, as mulheres do Hip-Hop precisam de segurança. “Precisamos de um espaço mais seguro para que nossas expressões artísticas na rua sejam mais bem acolhidas e mais seguras. Também precisamos de equidade nas contratações também que são os principais desafios. equidade de contratações tanto na gestão de espaços de visibilidade do nosso trabalho mas também na questão dos valores que são muito diferenciados os valores que são pagos aos homens e as mulheres DJs”.
Já grafiteira Mina Ribeirinha, do Pará, alertou para os ataques e a criminalização das culturas periféricas. “A gente precisa de políticas públicas que venham dar conta das nossas demandas e nesse sentido de nos proteger como segmento cultural”.
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