Nesta sexta-feira (25), às 19h30, o Espaço Mais Cultura de Vargem Grande do Sul, em São Paulo, recebe o lançamento do curta-metragem Vila Polar. A obra do diretor Paulo Tothy investiga, por meio da ficção, os impactos das transformações urbanas sobre a memória e o pertencimento da comunidade local. A exibição é gratuita e faz parte de uma ação cultural que envolve a participação de moradores e intervenções artísticas no território.
Realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, o curta é um exemplo do impacto da política pública de fomento ao audiovisual.
“Sem esse incentivo, o filme não teria existido. A lei me permitiu montar a equipe dos sonhos e realizar uma obra com dignidade. Estamos vivendo um momento em que histórias diversas estão sendo contadas em todo o Brasil, e isso é fundamental para pensar um país mais justo e representativo”, avalia o diretor.
O filme parte da observação das recentes perdas arquitetônicas na cidade, como casarões e armazéns históricos demolidos. A narrativa retrata a rotina de um carteiro que, em um dia incomum, se depara com mensagens e aparições misteriosas que rompem a normalidade de seu trabalho, enquanto os conflitos entre o passado e o futuro vêm à tona.
“Durante o processo de criação, percebi como aquilo que some por dentro, como as lembranças da minha avó, que teve demência, pode ser tão violento quanto o que é demolido por fora. As perdas arquitetônicas e afetivas que acompanhei no bairro onde cresci me despertaram a urgência de registrar e reimaginar a cidade por meio da ficção”, conta Paulo.
Ao longo de quase dois anos de pesquisa, Tothy acompanhou mudanças significativas no bairro, como a troca de postes históricos, o asfaltamento de ruas de paralelepípedo e o desaparecimento de sons característicos da cidade.
A produção contou com a participação de moradores, como Leandro José, que interpreta o carteiro protagonista. A espontaneidade de cenas com vizinhos, passantes e sons típicos da região contribuiu para dar autenticidade à narrativa.
“A escolha do Leandro José como protagonista já foi um gesto de confiança no território. A cidade ainda se ofereceu ao filme o tempo todo: a moto do gás que passou durante a gravação, o rapaz de cavalo que surgiu na hora certa, os vizinhos curiosos que se aproximaram e toparam participar”, conta.
Segundo ele, o filme também tem o propósito de contar parte da sua história e do cotidiano de Vargem Grande do Sul, a partir de um olhar poético.
“Instigar o resgate dessas memórias tão universais, que é o lugar onde se vive, a infância, a segurança da casa dos nossos avós. Acredito que isso faz função quando as pessoas podem refletir acerca das suas próprias biografias e por fim valorizá-las. Não só os moradores locais, mas quem porventura vier a assistir ao curta”, enfatiza.
Intervenção artística
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O curta-metragem é marcado por intervenções artísticas, como a Bazuca Poética, que projeta palavras e imagens em muros, ruínas e espaços urbanos. Criada pelo artista Cauê Maia, a ação gerou curiosidade e adesão da comunidade, sinalizando o desejo por ações culturais que valorizem a memória coletiva. Nesse sentido, o filme busca reativar presenças e criar novos significados para os espaços, questionando o que realmente permanece em meio às mudanças aceleradas.
“Fiquei encantado com o modo artesanal, direto e sensível com que ele projeta mensagens e imagens em muros e construções, atribuindo camadas de sentido sobre os espaços. A participação da Bazuca no filme foi rápida, pensada para a gravação, mas causou um impacto bonito e discreto. A curiosidade das pessoas mostrou que há abertura para ações mais estruturadas, como um videomapping com participação do público”, explica.
O filme também integra ações educativas, com exibições em escolas municipais previstas para agosto de 2025. Essas sessões visam aproximar os estudantes do universo do filme, incentivando reflexões sobre a relação entre comunidade, memória e o espaço urbano.
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