Início NACIONAL Cotados a vaga no STF apostam em atuação discreta para não irritar...

Cotados a vaga no STF apostam em atuação discreta para não irritar Lula


Cinco dias após o ministro Luís Roberto Barroso anunciar sua aposentadoria do Supremo Tribunal Federal (STF), os favoritos à vaga de ministro da mais alta Corte do país têm optado por se movimentar com discrição — inclusive como forma de não pressionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem compete indicar um nome. A postura mais contida, ao menos publicamente, vem sendo adotada tanto pelo advogado-geral da União, Jorge Messias, quanto pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas.

As agendas oficiais dos três têm sido marcadas por compromissos técnicos e institucionais, sem sinais explícitos de articulação política. Messias, por exemplo, tem mantido uma rotina voltada à atuação jurídica da AGU, com encontros voltados à defesa de políticas públicas e à interlocução com órgãos do Judiciário.

Na noite de ontem, Lula se reuniu com ministros do STF e com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, no Palácio da Alvorada, segundo a colunista Bela Megale, do GLOBO. Estavam presentes Gilmar Mendes, Flávio Dino, Alexandre de Moraes e Cristiano Zanin.

Jorge Messias em encontro com Fachin: ministro da AGU mantém rotina no órgão com agendas institucionais, sem sinais explícitos de articulação — Foto: Antonio Augusto/STF/8-10-2025
Jorge Messias em encontro com Fachin: ministro da AGU mantém rotina no órgão com agendas institucionais, sem sinais explícitos de articulação — Foto: Antonio Augusto/STF/8-10-2025

O chefe da AGU foi convidado a participar de um jantar na noite de ontem oferecido ao ministro Barroso na casa do advogado Murillo de Aragão — mas optou por não comparecer ao evento.

Ao entrar pela segunda vez na disputa por uma vaga no STF, Messias inverteu a estratégia de 2023, quando tentou ocupar a vaga que foi preenchida por Dino. Agora, o ministro tem jogado parado e evita tratar do assunto até mesmo com auxiliares mais próximos.

Há dois anos, quando entrou na disputa, Messias chegou a se reunir com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a participar de um jantar com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em campanha pela vaga aberta com a aposentadoria da ministra Rosa Weber.

Agora, pessoas próximas ao advogado-geral da União o veem preocupado em não constranger Lula nem afetar a relação com o presidente, na hipótese de uma segunda rejeição.

Em entrevista ao GLOBO publicada na segunda-feira, o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), afirmou ver Messias como o nome mais próximo ao presidente entre os cotados para a vaga aberta no STF. Ele ponderou, no entanto, que Pacheco e Bruno Dantas também têm a confiança de Lula.

Pacheco em reunião com Alcolumbre e cúpula do Judiciário: senador evita abordar disputa — Foto: Reprodução/Instagram
Pacheco em reunião com Alcolumbre e cúpula do Judiciário: senador evita abordar disputa — Foto: Reprodução/Instagram

Além da discrição nas articulações políticas, Messias tem mantido uma presença pública voltada a temas pessoais e espirituais. Nos últimos dias, publicou em seu perfil no Instagram conteúdos sobre o mês da Reforma Protestante. O chefe da AGU, que é evangélico, também publicou uma mensagem religiosa sobre o Dia das Crianças.

O fator evangélico é apontado como um ativo de Messias na disputa, uma vez que representaria um aceno de Lula ao segmento, majoritariamente alinhado ao bolsonarismo, às vésperas da eleição.

Pacheco também tem evitado declarações públicas sobre a sucessão no STF. Na segunda-feira, participou de uma agenda com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP); o presidente do Supremo, Edson Fachin; e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. Embora institucional, o encontro chamou a atenção do mundo jurídico e político, uma vez que Alcolumbre fez questão de publicar um registro nas redes sociais.

O presidente do Senado já enviou recado a Lula, por meio de ministros palacianos, de que eventual indicação de Messias teria dificuldades de ser aprovada no Senado. Ele trabalha por Pacheco.

Já Bruno Dantas esteve em Roma para participar de um evento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), voltado à governança global e segurança alimentar. A presença de Lula na capital italiana durante o mesmo período adicionou um componente simbólico à viagem, embora ambos não tenham conversado a sós.

A estratégia de discrição é vista por aliados como uma tentativa de respeitar o tempo de decisão de Lula, que tem sinalizado que não pretende se deixar pressionar. O presidente tem reiterado que fará a escolha com base em critérios jurídicos e políticos, mas sem antecipar nomes ou prazos.

Bruno Dantas na Itália: estadia simultânea à de Lula — Foto: Reprodução / TCU
Bruno Dantas na Itália: estadia simultânea à de Lula — Foto: Reprodução / TCU

A antecipação da aposentadoria de Barroso também gerou desconforto no Palácio do Planalto. Segundo o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, o ministro tentou falar com Lula por telefone após formalizar o pedido de aposentadoria, mas o presidente não atendeu a ligação.

A irritação de Lula estava relacionada ao momento político delicado, com derrotas recentes no Congresso, e à percepção de que a saída de Barroso acelera a pressão por uma definição sobre o novo nome para o STF.



FONTE