Os membros de uma facção criminosa que torturou e matou um motociclista por aplicativo suspeito de ter estuprado uma jovem durante uma corrida se auto intitulam justiceiros e agem aplicando “salves”, de acordo com o delegado Michel Paes, responsável pelo caso.
E o pior de tudo é que agem como se fossem justiceiros do bem da sociedade. Não é verdade. Eles são piores
O motociclista Daferson da Silva Nunes, de 34 anos, foi torturado e morto por membros do grupo após ser atraído para uma emboscada, nesta quarta-feira (22).
Ele negava o crime de estupro contra uma passageira na última segunda-feira (20) e estava recebendo ameaças dos criminosos.
“O membro da facção criminosa se auto-intitula o justiceiro da sociedade e que, sem nenhuma técnica de investigação, sem nenhuma legalidade, sem nenhuma autorização do Estado, pratica fatos mais graves do que as próprias vítimas que eles acham que estão julgando”, afirmou.
“E o pior de tudo é que agem como se fossem justiceiros do bem da sociedade. Não é verdade. Eles são piores. Sabe por quê? Eles também estupram, matam, vendem drogas, fazem isso com mulheres que supostamente traíram o marido. Só para vocês terem um exemplo, tem casos em que a mulher traiu o marido, aí eles também fazem, vão lá, torturam, dão ‘salve’”, complementou.
O delegado afirmou que é necessário que a sociedade não se engane por falsas ações como estas, pois as facções o fazem com o objetivo de enganá-la. “É muito importante que a sociedade não coadune com esse tipo de comportamento”, informou.
Ele afirmou ainda que os cidadãos devem ser julgados pelas leis do Estado, a partir de investigações e análises de profissionais, garantindo os direitos humanos a todos.
“A gente quer justiça, mas a justiça tem que ser feita de acordo com o nosso Estado, existe um órgão para apurar se esse fato aconteceu”.
“Se não tivesse acontecido isso [homicídio], a doutora Jéssica Assis [responsável pelo caso de estupro] teria representado pela prisão desse autor e ele estaria respondendo preso se a justiça autorizasse, até que realmente o Estado julgasse e essa pessoa viesse a ser condenada de acordo com a lei”, disse.
O caso
A Polícia Civil foi acionada por volta das 23h30, da última segunda-feira, para atender a uma ocorrência de estupro, no Bairro bairro Jardim Glória, em Várzea Grande.
A vítima disse que solicitou uma corrida de motocicleta por meio de um aplicativo para sair de um bairro de Cuiabá para Várzea Grande. Durante o percurso, o motociclista desviou do trajeto, a levou para um local ermo e cometeu o estupro.
Ele a deixou em outro local e a jovem logo procurou a polícia para registrar um Boletim de Ocorrência. Ela também solicitou uma medida protetiva com urgência, visto que ele sabia a localização de sua residência por meio do aplicativo de corrida.
Daferson também registrou um Boletim afirmando que não cometeu o estupro, após o caso repercutir nas redes sociais. Os membros da facção criminosa começaram a ameaçá-lo e, a fim de se inocentar, Daferson marcou um encontro com eles para conversar.
No entanto, ele foi emboscado e torturado por mais de 6 horas por pelo menos cinco membros da organização criminosa. Daferson foi encontrado horas depois em uma estrada vicinal da Guia, com sinais de tortura, pés e mãos amarrados e três tiros na região da cabeça.
Até o momento não há nenhuma suspeita de que a jovem estuprada tenha algum envolvimento com a morte de Daferson. O laudo da Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) confirmou que houve estupro e que havia sêmen na região íntima da vítima, mas o exame ainda não confirmou se o material pertencia a Daferson.
Veja o vídeo:




