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- Author, Leandro Prazeres
- Role, Da BBC News Brasil em Brasília
- Author, Nomia Iqbal
- Role, Da BBC News
Em entrevista à BBC News Brasil nesta quarta-feira (13/08), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que o governo de Donald Trump tem Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB), respectivamente presidentes do Senado e da Câmara, “no radar” para aplicação de sanções.
“As autoridades americanas têm uma clara visão do que está acontecendo no Brasil e sabem que, por exemplo, o processo de anistia depende de ser iniciado pela mesa do presidente Hugo Motta. O processo de impeachment [contra Alexandre de Moraes] já tem 41 assinaturas no Senado e deveria ao menos ser iniciado no Senado Federal. Então, tudo isso aí tá em jogo, está acontecendo nesse momento”, afirmou Eduardo Bolsonaro, que está morando nos Estados Unidos, por videoconferência.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, no entanto, que é “momento de permitir ao Congresso trabalhar”, reiterando que os presidentes das duas Casas legislativas deveriam tomar medidas para satisfazer os pedidos do campo político bolsonarista.
“Assim como muitos enxergam o Rodrigo Pacheco uma peça que protegeu esse regime, se no futuro nada for feito, talvez aí a gente tenha também o Alcolumbre e o Hugo Motta figurando nessa posição [de sofrer sanções].”
“Você tem ali na mesa, por exemplo, do secretário [de Estado] Marco Rubio, a possibilidade de retirada de vistos, dentre outros mecanismos de pressão, para tentar fazer com que o Brasil saia dessa crise institucional que nós vivemos”, apontou Eduardo, acrescentando que tem conduzido uma “grande batalha” para “aprovar, ou pelo menos, apreciar o projeto de lei da anistia” aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
Alvo de sanções, Moraes afirmou no dia 1 de agosto que o STF “continuará realizando sua missão constitucional”.
“Em especial, neste segundo semestre, realizará os julgamentos e as conclusões dos quatro núcleos das importantes ações penais relacionadas à tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro”, disse o ministro.
A partir desta quarta-feira, Eduardo se encontrará com representantes do governo americano para apresentar um relatório que mostraria os impactos positivos no Brasil de medidas recentes do governo americano.
O ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo deve acompanhar Eduardo nesses encontros com autoridades americanas.
Perguntado pela BBC qual recado daria a brasileiros impactados pelas tarifas americanas, Eduardo Bolsonaro respondeu: “Vale a pena lutar. A nossa liberdade vale mais do que a economia.”
“Estou preocupado do Brasil consolidar esse regime e viver durante décadas igual a Cuba, igual a Venezuela. Aí se a gente chegar nesse ponto, vai ter saudade de um tarifaço de só 50%.”
O parlamentar chamou ainda Alexandre de Moraes, relator de ações e investigações que o atingem, assim como a Jair Bolsonaro e seus apoiadores, de “psicopata”.
“Eu estou disposto a ir às últimas consequências para retirar esse psicopata do poder. Se depender de mim, a gente vai continuar aqui dobrando a aposta até que a pressão seja insustentável e as pessoas que sustentam Moraes larguem a mão dele para que ele vá sozinho para um abismo”, disse o deputado federal.
Ainda em sua declaração no dia 1 de agosto a respeito da sanção, Moraes atacou os articuladores da ação bolsonarista. “Acham que estão lidando com pessoas da laia deles. Acham que estão falando também com milicianos. Mas não estão, estão falando com ministros da Suprema Corte brasileira”, disse.
Deputado federal é investigado por sua atuação nos EUA
Na ocasião, ele argumentou que havia tomado a “decisão mais difícil” de sua vida para pressionar o governo de Donald Trump a atuar pela anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro de 2023 em Brasília e por sanções contra Alexandre de Moraes.
O período de licença previsto para o cargo, de 120 dias, expirou em 20 de julho. Ainda não se sabe como será a continuidade do mandato de Eduardo.
Em entrevista à coluna de Bela Megale, do jornal O Globo, publicada no último dia 6, o deputado afirmou que não renunciaria ao cargo.
Ele disse também que enviaria um ofício ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), sugerindo que pudesse participar de votações de forma virtual, com o argumento de que, se voltasse, seria perseguido no Brasil.
Eduardo acrescentou que, no quadro atual, seria preso se voltasse ao país. Por isso, disse que trabalha para “anular” e “isolar” Alexandre de Moraes. Se fosse vitorioso, poderia voltar ao Brasil e à sua atividade política; do contrário, viveria “décadas em exílio” nos EUA.
No dia seguinte, Hugo Motta falou ao portal Metrópoles que o regimento na Casa não prevê exercício do mandato à distância, com algumas exceções — “o que não se justifica para o momento”, disse o presidente da Câmara.
Outra possibilidade seria o mandato de Eduardo ser cassado por faltas, já que a licença já expirou.
Entretanto, de acordo com cálculos do jornal Folha de S. Paulo, isso só poderia ocorrer em 2026, mesmo que o deputado falte todas as sessões desse ano, porque uma regra da Casa determina a análise da assiduidade no ano seguinte ao ano em que as ausências foram registradas.
Crédito, Reuters
Estava prevista para essa quarta uma reunião do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent.
Mas o encontro acabou cancelado, o que Haddad atribuiu à articulação da direita brasileira, sobretudo a Eduardo Bolsonaro. Uma nova data não foi remarcada.
“Recebemos essa informação dois dias depois do anúncio que eu fiz [de que a reunião aconteceria], em que o Eduardo publicamente deu uma entrevista que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos”, disse Haddad ao canal GloboNews.
Em nota conjunta com Paulo Figueiredo, o deputado negou sua participação no cancelamento.
“Haddad prefere culpar terceiros pela própria incompetência (…) Não temos, nem pretendemos ter, qualquer controle sobre a agenda do secretário do Tesouro dos EUA. O sr. Bessent é um profissional admirável, que cumpre as diretrizes determinadas pelo presidente e preserva única e exclusivamente os interesses do povo americano”, escreveram os dois na rede social X.
O presidente Lula, por sua vez, disse à Rádio BandNews FM na terça-feira (12) que Eduardo Bolsonaro passa “informações deformadas e erradas” ao governo Trump.
“O presidente Trump precisa ter uma assessoria que mostra um pouco de conhecimento do Brasil. Se montar uma assessoria com o filho do Bolsonaro e com pessoas ligadas a Bolsonaro, vai ter sempre informações deformadas e erradas”, disse Lula.
*Colaborou Mariana Alvim, da BBC News Brasil em São Paulo