Em um áudio emocionado compartilhado nesta quarta-feira (28), a mãe de Gabrieli Daniel de Moraes, de 31 anos, assassinada a tiros pelo próprio marido, o policial militar Ricker Maximiano de Moraes, de 35 anos, no último domingo (25), em Cuiabá, descreveu as torturas sofridas pela filha antes do crime.
Ele espancou a minha filha de uma tal maneira, uma crueldade tão grande que nem um animal merece passar por isso
“Ele espancou a minha filha de uma tal maneira, uma crueldade tão grande que nem um animal merece passar por isso”, disse Noemi Daniel, com a voz embargada.
Os alvos foram enviados nesta quarta para a deputada federal Gisela Simona (União), que compartilhou.
“Quando a gente abriu o caixão e viu ela, a revolta foi muito grande. A minha filha chegou deformada, não deu nem para reconhecer. Cortaram até o cabelo dela, que era lindo. Ele quebrou o maxilar dela, afundou a cabeça, deixou perfurações nos braços. Ela estava toda destruída.”
Gabrieli, que cursava o último semestre de Enfermagem e planejava sua formatura para agosto, era descrita pela mãe como uma mulher dedicada. “Ela era uma menina boa, ‘trabalhadeira’, cuidava dos filhos, estudava. Esse animal só vestia uma roupa passada, que ela deixava toda arrumadinha. Por que tanta crueldade no ser humano? Eu não consigo acreditar”, questionou Noemi.
Sinais de tortura
Familiares e funcionários da funerária que prepararam o corpo de Gabrieli para o translado ao Pará, seu estado de origem, relataram à família como o corpo se encontrava.
“Ela estava toda deformada. Ele praticamente quis acabar com ela, destruir ela, e conseguiu”, descreveu um parente em áudio. “Ela foi encontrada toda ensanguentada, com o cabelo todo picotado, com o corpo cheio de hematomas e perfurações. O maxilar estava quebrado, a cabeça afundada de um lado, e tinha um caroço enorme na testa. As costas e os braços tinham golpes de faca.”
“Prova disto que a funerária relatou que o procedimento para preparar o corpo para ser transladado demorou devido a estar com muitas perfurações. Então eles tiveram que costurar”.
O processo de preparação do corpo foi demorado devido à gravidade dos ferimentos. “A funerária teve que costurar tudo. Foi horrível”, acrescentou o familiar.
Noemi Daniel faz um apelo e pede que o acusado nunca mais tenha contato com os filhos.
“Esse monstro tem que estar jogado dentro de uma cela, e jogar a chave fora. Se a justiça da Terra falhar, eu tenho certeza que a de Deus não vai. Ele vai pagar por tudo que fez.”
O corpo de Gabrieli foi transladado para o Pará com apoio da Secretaria de Segurança e doações de amigos. Enquanto a família tenta lidar com a dor, o PM Ricker aguarda julgamento na cadeia, onde responderá por feminicídio qualificado.
Gisela Simona, relatora do Pacote Antifeminicídio (Lei 14.734/24), que aumentou a pena máxima para 40 anos, classificou o crime como “um dos casos mais brutais” que já viu.
“Não adianta um feminicida se arrepender depois de tirar a vida da esposa, da mãe dos seus filhos, destruir uma família inteira. Seu lugar é no presídio, cumprindo a pena no rigor da lei. Cadeia, e ponto final.”
O crime
O assassinato ocorreu na residência do casal, no bairro Jardim União, na frente dos filhos. Vizinhos relataram ter ouvido disparos. Testemunhas afirmaram que Ricker saiu da residência fardado e armado, com os filhos de 3 e 5 anos, deixando-os com os pais, em Várzea Grande.
Ao entrar na casa, os policiais encontraram Gabrieli já sem vida, com múltiplos ferimentos a bala. O Samu (Serviço de Atendimento Médico de Urgência) foi acionado, mas não houve tempo para socorro. Horas depois, na madrugada da segunda (26), o PM se entregou na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Durante o interrogatório, limitou-se a dizer: “Foi uma fatalidade, uma tragédia. Estraguei a minha família.” Ele se recusou a dar mais detalhes, alegando “não estar em condições emocionais” para responder.