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Crédito, Reuters
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- Author, Ruth Comerford e Maia Davies*
- Role, BBC News
O governo de Israel declarou neste sábado (26/7) que vai permitir o estabelecimento de corredores humanitários para o transporte de ajuda através de comboios da ONU para Gaza.
Em um comunicado, as Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmaram que também permitirão a retomada de lançamentos aéreos de ajuda humanitária para a região.
Segundo o comunicado, os primeiros lançamentos conterão sete pacotes com farinha, açúcar e alimentos enlatados fornecidos por organizações internacionais.
O anúncio surge em meio à crescente pressão internacional sobre Israel para permitir mais ajuda à Gaza, já que organizações humanitárias alertam sobre fome em massa no enclave e há relatos de pessoas morrendo de inanição.
No sábado, as forças de segurança de Israel afirmaram ter iniciado “uma série de ações destinadas a melhorar a resposta humanitária na Faixa de Gaza” e que estão “preparadas para implementar pausas humanitárias em áreas densamente povoadas”.
Negaram o que chamaram de “falsa alegação de fome deliberada na Faixa de Gaza”, apesar das evidências crescentes.
Também declararam que retomaram o fornecimento de energia para uma usina de dessalinização em Gaza que, segundo afirmaram, “atenderá cerca de 900 mil moradores da região”.
A ONU, organizações de ajuda humanitária e alguns aliados de Israel culparam o país pela crise, pedindo a entrada irrestrita e entrega de ajuda em Gaza.
Em seu comunicado, as IDF disseram que a responsabilidade pela distribuição de alimentos à população em Gaza “cabe à ONU e às organizações internacionais de ajuda”, e acrescentaram que essas organizações devem “garantir que a ajuda não chegue ao Hamas”.
Israel interrompeu totalmente o fornecimento de suprimentos para Gaza desde o início de março e retomou com novas restrições em maio.
O país diz que permitiu a entrada de comida suficiente durante a guerra e culpa o Hamas pelo sofrimento da população civil.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, sugeriu que o país poderia desempenhar um papel no lançamento de ajuda aérea à Gaza, após mais de um terço dos parlamentares assinarem uma carta pedindo ao governo que reconheça o Estado palestino, seguindo os passos da França.
“A notícia de que Israel permitirá que países lancem ajuda aérea em Gaza chegou tarde demais — mas faremos tudo que pudermos para enviar ajuda por essa via”, escreveu Starmer ao jornal The Mirror.
O premiê também afirmou que o Reino Unido está “acelerando urgentemente os esforços” para evacuar crianças de Gaza que precisam de atendimento médico crítico para tratamento no país.
A imprensa local relatou que Emirados Árabes Unidos e Jordânia realizariam os lançamentos de ajuda área mais imediatos.
A ONU classificou a ação de lançar pacotes de comida por avião como uma “distração diante da inação” por parte do governo israelense.
A funcionária da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), Caroline Willemen, disse ao programa Today, do Reino Unido, que está preocupada com o plano de lançar ajuda de avião “dado o nível de desespero das pessoas”.
“Quando você lança comida do céu dessa forma, como elas vão conseguir acessá-la?”, disse ela.
“Todos estão desesperados”, seguiu, acrescentando que “os mais vulneráveis talvez não consigam acessar essa ajuda, pois será uma cena muito caótica”.
Editor de notícias internacionais da BBC News, Jeremy Bowen analisa que profissionais envolvidos em operações de ajuda humanitária consideram os lançamentos aéreos de suprimentos como último recurso.
“Eles são usados apenas quando qualquer outro tipo de acesso é impossível. Esse não é o caso em Gaza”, diz.
Bowen complementa dizendo que a quantidade de comida que pode ser entregue desta forma é muito menor do que poderia ser transportado por um comboio de caminhões.
“A poucos quilômetros ao norte está Ashdod, o moderno porto de contêineres de Israel. Algumas horas mais adiante fica a fronteira com a Jordânia, que tem sido usada regularmente como rota de suprimentos para ajudar Gaza”, diz Bowen.
Crédito, Ahmed Jihad Ibrahim Al-arini/Anadolu via Getty Images
‘Catástrofe humanitária’
O anúncio de Israel acontece depois que, na sexta-feira, Alemanha, França e Reino Unido pediram que Israel “levante imediatamente as restrições ao fluxo de ajuda” para o território.
Em uma declaração conjunta, exigiram o fim imediato da “catástrofe humanitária que estamos testemunhando em Gaza” e da própria guerra, acrescentando que Israel deve “cumprir suas obrigações sob o direito humanitário internacional”.
“Negar assistência humanitária essencial à população civil é inaceitável”, dizia o comunicado.
O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, afirmou que não consegue “explicar o nível de indiferença e inação que vemos por parte de tantos [atores] na comunidade internacional — a falta de compaixão, de verdade, de humanidade”.
Em discurso na assembleia global da Anistia Internacional, Guterres disse que mais de mil palestinos foram mortos enquanto tentavam acessar alimentos desde 27 de maio — quando a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organização privada apoiada por EUA e Israel, começou a distribuir suprimentos como alternativa ao sistema liderado pela ONU.
‘Testemunhei crimes de guerra em Gaza’
Um contratado de segurança dos EUA que trabalhou para a Fundação Humanitária de Gaza (GHF) em maio e junho de 2025 disse à BBC, na sexta-feira, que “sem dúvida… testemunhou crimes de guerra” durante esse período.
Anthony Aguilar afirmou ter visto as Forças de Defesa de Israel (IDF) e contratados americanos utilizando munição real, artilharia, bombas de morteiro e tiros de tanque contra civis em locais de distribuição de alimentos.
O soldado aposentado disse: “Em toda a minha carreira, nunca presenciei um nível de brutalidade e uso de força indiscriminada e desnecessária contra uma população civil como o que vi em Gaza, pelas mãos das IDF e dos contratados americanos”.
Em resposta, a GHF afirmou que as acusações — vindas de “um ex-contratado insatisfeito que foi demitido por má conduta há um mês” — eram “categoricamente falsas”.
Enquanto isso, o futuro das negociações para garantir um novo cessar-fogo e um acordo de libertação de reféns permanece incerto, após os Estados Unidos e Israel retirarem suas equipes de negociação do Catar.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o Hamas “realmente não queria fazer um acordo”. “Acho que eles querem morrer”, disse ele.
O Hamas expressou surpresa ao ser questionado a respeito dos comentários dos EUA. Um alto funcionário do Hamas também disse ao correspondente da BBC em Gaza que os mediadores informaram ao grupo que as negociações não haviam sido encerradas, e afirmou que a delegação israelense deveria retornar a Doha na próxima semana.
Israel iniciou uma guerra em Gaza em resposta ao ataque liderado pelo Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 feitas reféns.
Desde então, mais de 59 mil pessoas foram mortas em Gaza, segundo o ministério da Saúde administrado pelo Hamas.
A maior parte da população de Gaza foi deslocada várias vezes pelo conflito, e estima-se que mais de 90% das residências estejam danificadas ou destruídas.