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Crédito, EPA
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- Author, Da BBC News Indonesia
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Internautas brasileiros encheram as contas do Instagram da Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas) e do presidente do país, Prabowo Subianto, de comentários criticando o resgate fracassado de Juliana Marins — a brasileira que morreu após cair enquanto percorria uma trilha em um vulcão no fim de semana.
Internautas brasileiros criticaram diversos aspectos da resposta das autoridades da Indonésia: “por que o processo de resgate de Juliana foi lento?”, “por que o helicóptero demorou tanto para ser acionado?”, “Juliana morreu não porque caiu, mas porque ficou lá por muito tempo”.
“Juliana sofreu negligência grave por parte da equipe de resgate. Se a equipe de resgate tivesse conseguido salvá-la dentro das sete horas estimadas, Juliana ainda estaria viva”, escreveu a conta do Instagram @resgatejulianamarins, que afirma representar a família.
“Juliana merecia mais! Agora buscaremos justiça para ela, porque é isso que ela merece!”, acrescentou o relato.
A partir da série de críticas, a BBC News Indonesia (serviço de notícias da BBC em idioma indonésio) entrevistou escaladores experientes, o chefe do Escritório do Parque Nacional do Monte Rinjani e a Agência Nacional de Busca e Resgate para acompanhar o processo de evacuação e o nível de dificuldade da escalada do monte Rinjani.
Por que o processo de resgate levou dias?
Juliana caiu em um barranco com centenas de metros de profundidade, em direção ao lago Segara Anak, na região do monte Rinjani, por volta das 6h30 do sábado (21/06).
O local exato é no ponto Cemara Nunggal, uma trilha cercada por desfiladeiros que leva ao cume do Rinjani.
Apesar da queda, as autoridades competentes disseram que Juliana ainda estava viva no sábado. Isso está de acordo com imagens de drones e outros vídeos gravados por vários escaladores — que circularam online e foram transmitidos pela mídia brasileira.
Três dias depois, na terça-feira (24/06), a equipe de resgate conseguiu se aproximar de Juliana e declarou a vítima morta. Seu corpo foi resgatado no dia seguinte.
O intervalo de tempo foi criticado por internautas: por que demorou dias para chegar a Juliana?
A BBC News Indonésia conversou com três pessoas sobre o assunto:
- Ang Asep Sherp, um alpinista experiente e membro da Wanadri — a mais antiga organização de amantes da natureza da Indonésia.
- Galih Donikara, um alpinista que atua no mundo da escalada há décadas.
- Mustaal, organizador de escaladas do Rinjani, que conhece o local desde 2000.
Primeiro, eles dizem que o equipamento de resgate de emergência era muito limitado.
“Cair em um barranco é algo que já aconteceu muitas vezes. Isso significa que precisamos de equipamento completo de montanhismo, disponível em pontos vulneráveis e capaz de penetrar em qualquer terreno e clima”, disse o alpinista sênior Ang Asep Sherpa.
Asep deu o exemplo do monte Kinabalu, na Malásia, onde em cada posto há equipamentos de segurança que podem ser usados pelos alpinistas em caso de perigo.
“Assim como os extintores de incêndio em todos os prédios, o equipamento de resgate na montanha também é essencial.”
Crédito, Getty Images
Da mesma forma, Mustaal também vê a importância da integralidade e disponibilidade de equipamentos de resgate em pontos vulneráveis da escalada.
“Agradecemos a todas as equipes em campo, que, apesar de todas as suas limitações, tentaram salvar as vítimas. No entanto, descobriu-se que a corda não era longa o suficiente e eles retiraram os equipamentos de baixo, alguns até foram trazidos de Mataram”, disse ele.
Isso, disse ele, tornou o processo de evacuação demorado.
Em segundo lugar, ele atribuiu a dificuldade ao clima. Mustaal disse que as condições climáticas no monte Rinjani frequentemente dificultam a escalada.
Galih Donikara concorda. No entanto, segundo ele, mesmo que o tempo esteja ruim, deve haver uma série de planos de ação a serem tomados caso ocorra um incidente.
Em terceiro lugar, é necessária a presença de socorristas de prontidão em cada posto de escalada seguro — especialmente durante a alta temporada de escalada.
“É importante ter uma equipe de resgate bem coordenada, que também esteja de guarda em locais potencialmente perigosos, construindo postos de resgate. Bem, se isso for cumprido, acredito que o atraso será resolvido”, disse Galih Donikara.
“Portanto, se o equipamento e o pessoal estiverem prontos, independentemente do clima e do terreno, parece que há brechas que podem ser utilizadas para realizar resgates.”
Qual foi a resposta do governo?
O chefe do Parque Nacional do Monte Rinjani (TNGR), Yarman Wasur, afirmou que o processo de evacuação foi realizado de acordo com os procedimentos padrões e negou as críticas de que o processo tenha sido lento.
“Formamos uma equipe imediatamente. O processo de formar uma equipe, preparar equipamentos e outros itens leva tempo. Esta equipe precisa ser profissional, pois envolve a segurança também da equipe de evacuação.”
Yarman afirmou que dezenas de socorristas foram mobilizados para a evacuação. O número chegou a cerca de 50 pessoas na terça-feira (25/06).
Ele explicou que o clima extremo e a topografia do local foram os maiores obstáculos para a evacuação.
“Rinjani é um local extremo, com topografia extrema, e o clima aqui muda muito o tempo todo. Isso é o que impede que a equipe de evacuação seja otimizada”, disse Yarman.
Da mesma forma, a Basarnas também afirmou em diversas ocasiões que o processo de evacuação foi dificultado por fatores climáticos, de temperatura e de localização extremos.
Yarman explicou que, pelas informações iniciais obtidas, a vítima caiu em um barranco a cerca de 200 metros de profundidade.
No entanto, quando a equipe foi até o local e pilotou o drone, a vítima não estava mais visível no ponto estimado inicialmente.
“Depois que nossa equipe verificou o terreno, descobriu-se que ela não estava mais lá, havia se movido, caído daquele jeito”, disse ele.
Isso, disse Yarman, fez com que a equipe de resgate perdesse o rastro da vítima. “Nossa equipe passou a noite procurando. Ela estava perdida lá.”
Além disso, disse ele, as condições climáticas incertas e a topografia extrema fizeram com que o processo de evacuação demorasse dias.
Por que helicópteros não foram mobilizados?
Outra pergunta dos internautas: “Por que helicópteros não foram mobilizados imediatamente para realizar o resgate?”
O chefe de Basarnas, marechal Mohammad Syafii, disse que havia preparado vários helicópteros para realizar a evacuação.
No entanto, isso não pôde ser feito devido ao clima, que dificultou a movimentação, o local de pouso e a outros fatores.
A Basarnas mobilizou um helicóptero especial do aeroporto Atang Senjaya Bogor, que possui capacidade de usar cordas de resgate.
O especialista em aviação Gerry Soejatman explicou os obstáculos impediram o envio de helicópteros AW139 e AS365 operados pela Basarnas para evacuar Juliana.
Segundo ele, isso ocorreu porque a vítima caiu em um declive de 2.940 metros de altura. E a capacidade dos dois helicópteros de pairar acima do solo é de 2.460 metros.
“Então, como vocês podem ver, o helicóptero Basarnas não conseguiria fazer o resgate da vítima, mesmo com tempo bom”, disse Gerry.
Por que acidentes acontecem repetidamente?
Não é a primeira vez que acontece um acidente como o de Juliana. No ano passado, houve pelo menos dois incidentes parecidos. Em um deles, um cidadão da Malásia morreu.
A falta de acesso de segurança para alpinistas em Rinjani se tornou um ponto de destaque para os internautas.
O experiente alpinista Galih Donikara vê a necessidade de melhorar o acesso seguro para escaladores em Rinjani, especialmente em pontos vulneráveis.
“Se, por exemplo, for um barranco perigoso, deve haver uma cerca, corda ou outra barreira entre os barrancos que seja resistente para os escaladores”, disse Galih.
Crédito, Reprodução | Instagram
Além disso, disse Galih, é necessário que os policiais em serviço alertem sobre rotas perigosas. Para isso é preciso que os policiais estejam não apenas no ponto de registro, mas também em cada posto de parada.
“E é preciso elaborar um guia conjunto sobre os procedimentos operacionais padrão (POP) para resgate de emergência, de acordo com o potencial de acidentes em cada local. Todos nós nos reunimos, fazemos simulações conjuntas, treinamos guias e socorristas locais para que esses problemas sejam minimizados”, disse ele.
Da mesma forma, o alpinista sênior Ang Asep Sherpa considera a segurança e a orientação importantes, pois frequentemente os alpinistas, especialmente os iniciantes, ignoram a segurança e a necessidade de preparação física e de equipamento.
“Porque o que eles veem nas redes sociais é apenas a beleza, sem descobrir a preparação. E, agora, os alpinistas, desde que tenham dinheiro, só trazem água potável e sentem que podem escalar. É isso que causa muitos acidentes”, disse ele.
O chefe do parque nacional do monte Rinjani, Yarman Wasur, afirmou que implementou uma série de medidas de segurança, como a instalação de cordas e escadas de segurança em diversos locais vulneráveis.
Além disso, sua equipe também instalou cerca de oito câmeras de vigilância e elaborou procedimentos operacionais padrão.
Os regulamentos mais recentes do parque foram revisados em 24 de março de 2025. As regras tratam de escaladores, organizadores de trilhas, guias, carregadores e reservas de ingressos.
“Um dos procedimentos padrões no monte Rinjani é que seis escaladores externos usem um guia e dois carregadores. E isso foi feito”, disse ele.
Yarman também afirmou que seu grupo providenciou dois postos de emergência no Posto Plawangan 1 e próximo ao lago.
No entanto, afirmou que seu grupo realizará uma avaliação completa após o incidente, desde a instalação de infraestrutura de segurança até o aumento do efetivo em pontos vulneráveis.
Qual a dificuldade da escalada do monte Rinjani?
O organizador de escaladas no Rinjani, Mustaal, afirmou que o monte tem um nível de escalada difícil, especialmente a trilha até o pico conhecido como Letra E.
Essa trilha tem alguns metros de largura, com um contorno arenoso e rochoso em subida, frequentemente acompanhado de fortes rajadas de vento e tempestades.
“Esta trilha exige alta concentração dos escaladores”, disse Mustaal, que gerencia o serviço de escalada.
Mustaal admitiu que o local onde Juliana caiu era em um terreno muito difícil. “À esquerda, a inclinação é de 45 graus e o barranco desce em linha reta, especialmente à tarde, quando a neblina fica muito escura.”
Além das influências naturais difíceis, ele disse que os acidentes nessa rota geralmente ocorrem porque os alpinistas estão cansados ou tiram fotos que os fazem perder o foco.
Mustaal, que escala o Rinjani desde 2000, disse que a próxima rota é do pico do Rinjani até o lago Segara Anak, que é uma descida.
“Certa vez, trouxe um hóspede da Austrália. Quando ele desceu para o lago, não estava concentrado. Então, ele tropeçou nos próprios pés e caiu. Mas ele sobreviveu porque a queda não foi tão profunda. Esse é um pequeno exemplo”, disse ele.
Apesar de ter uma rota extrema, Mustaal admitiu que não há proibição para escaladores iniciantes chegarem ao pico do Rinjani.
Ele disse que todos podem escalar o monte Rinjani, mas devem seguir as regras estabelecidas, como estar acompanhados por um guia e carregador local, e ser monitorados para garantir uma boa condição física.
O escalador sênior Ang Asep Sherpa também considerou o monte Rinjani como uma rota de escalada bastante difícil, especialmente em direção ao pico.
“Aproximar-se do pico é um terreno arenoso. Subimos dois degraus e descemos um, então exige muita força física e resistência. Além disso, há ventos fortes e penhascos à esquerda e à direita. Um pequeno erro certamente será um problema”, disse ele.
No entanto, segundo ele, se o alpinista tiver muita resistência física e seguir a rota de escalada, “ela será realmente segura”.
“Para alpinistas iniciantes, acho que eles precisam se preparar bem. Eles precisam ter boas habilidades físicas e equipamento adequado.”