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Margareth Menezes leva debate sobre patrimônio, clima e consciência social à Belém — Ministério da Cultura



A ministra da Cultura, Margareth Menezes, participou nesta quinta-feira (13) de uma intensa agenda na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém (PA). Ela salientou o caráter histórico da presença da cultura na COP, destacando que esta é a primeira vez que o tema entra oficialmente na agenda de ação da conferência.
Segundo a titular da Pasta, a cultura deve ser reconhecida como ponte entre conscientização e mobilização social, capaz de transformar atitudes e fortalecer a democracia. “É muito importante essa oportunidade que nós estamos tendo, pela primeira vez, de entrar na agenda de ação da COP, porque isso traz a cultura pra esse lugar de ponte, de conscientização da humanidade, do potencial que a cultura tem pra gente mudar essa realidade”, enfatizou.
Ela pontuou ainda que eventos climáticos têm afetado patrimônios culturais e comunidades produtoras de cultura, como artesãos, ribeirinhos e povos indígenas, e citou a atuação emergencial do MinC no Rio Grande do Sul, em apoio a instituições culturais atingidas por desastres naturais.
Entre as propostas defendidas, Margareth Menezes apontou a necessidade de incluir a cultura como uma nova Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), tornando-se a 19ª meta global. “A cultura precisa ser considerada nos planos de ação de todos os países como uma área importante a ser absorvida. E deve ser reconhecida como a 19ª ODS nesse plano de desenvolvimento mundial”, completou.
Podcast O Tempo Virou
Logo pela manhã, a ministra foi convidada do podcast O Tempo Virou, comandado por Giovanna Nader, no Stand E+ do Pavilhão Blue Zone. A conversa, que irá ao ar no canal do YouTube do programa no dia 25 de novembro, abordou o valor da cultura como instrumento de conscientização climática e emancipação social. “A cultura é importante, é a fonte para uma conscientização maior. Popularizar o que estamos vivendo em relação à questão do clima — que não é abstrata, as pessoas já estão sofrendo com isso — é essencial”, destacou.
Durante a entrevista, a titular do MinC também defendeu o uso da tecnologia como ferramenta de libertação e mobilização, e criticou a chamada “dominação narrativa”, que historicamente restringiu o acesso ao saber e a liberdade de pensamento. “Nós temos que entender que somos livres pra pensar, pra articular e acreditar naquilo que queremos. Eu sou um elemento que tem que ser respeitado, como ideia, como comunidade e como povo”, afirmou.
Patrimônio cultural e clima
No início da tarde, Margareth Menezes participou do Workshop sobre Patrimônio Cultural e Adaptação às Mudanças do Clima, parte oficial das salas temáticas da Agenda de Ação da Presidência da COP30. Pela primeira vez, o patrimônio cultural integra de forma estruturada a agenda de ação da UNFCCC, dentro do Eixo 5 – Promoção do Desenvolvimento Humano e Social, especificamente no Objetivo-Chave 19, que trata de cultura, patrimônio e ação climática.
A atividade reuniu especialistas internacionais, autoridades culturais e representantes de organismos multilaterais para debater como diferentes países estão incorporando o patrimônio cultural aos Planos Nacionais de Adaptação (NAPs). O encontro marcou também o lançamento oficial do Plano de Aceleração de Soluções, iniciativa desenvolvida pelo Ministério da Cultura em parceria com o Group of Friends for Culture-Based Climate Action, que hoje reúne 56 países. O plano propõe mecanismos técnicos, estratégicos e de cooperação para apoiar governos na formulação de ações concretas de adaptação envolvendo cultura e clima.
Na abertura do painel, Margareth destacou a simbologia de realizar o encontro na Amazônia, “um lugar de tanta importância para a humanidade”, e ressaltou a relevância inédita dada à cultura nesta COP. A ministra lembrou que eventos climáticos extremos têm destruído bens materiais, apagado memórias e afetado economias locais inteiras — de artesãos a povos indígenas, passando por ribeirinhos e comunidades tradicionais. “Quando uma enchente acontece, um deslizamento, uma onda de calor, nós perdemos não só paredes. Perdemos também a memória, a identidade, laços comunitários e referências espirituais”, discursou.
A ministra reforçou que defender o patrimônio cultural diante das mudanças climáticas é uma forma direta de proteger vidas, territórios e o futuro de comunidades inteiras: “Proteger o patrimônio cultural diante das mudanças climáticas é proteger gente, território e futuro”.
Entre os desafios, destacou a urgência de incluir o patrimônio cultural nos compromissos nacionais e internacionais de adaptação, além da necessidade de prever orçamento, metodologias e redes de cooperação. Citou o trabalho recente do MinC no Rio Grande do Sul como exemplo de resposta emergencial que pode orientar novas políticas globais.
A mesa também contou com a participação de nomes como Claudia Roth, ex-ministra da Cultura da Alemanha; Leandro Grass, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); Meredith Wiggins, diretora sênior de adaptação climática do World Environment Funds; Princesa Dana Firas, enviada especial da Climate Heritage Network; Ian Miller, chefe do Departamento de Ciência e Inovação da National Geographic; e Simon Musasizi, chefe do Intangible Cultural Heritage NGO Forum. A mesa foi mediada por Mahnaz Fancy, do Ministério da Cultura dos Emirados Árabes Unidos.
A diversidade de perspectivas reforçou que a crise climática ameaça não apenas territórios, mas também identidades coletivas. Claudia Roth relembrou: “A cultura não é uma política suave. É um campo central de resiliência e responsabilidade”.
Já o presidente do Iphan, Leandro Grass, destacou o caráter humano da pauta. “O patrimônio são as pessoas. Se queremos preservar o patrimônio cultural, precisamos cuidar, antes de tudo, das comunidades”, alertou.
Por sua vez, a Princesa Dana Firas defendeu a necessidade da cultura ser integrada em todos os níveis e a urgência de estruturas internacionais mais robustas: “precisamos garantir que o próximo Global Stocktake inclua a cultura de forma muito séria”.
Ao final, o workshop consolidou o entendimento de que integrar cultura e adaptação climática não é apenas uma medida de preservação, mas um componente essencial para resiliência social, justiça climática e planejamento sustentável.
Reunião bilateral com o governo canadense
Encerrando a agenda, a ministra se reuniu com o ministro da Cultura do Canadá, Steven Guilbeault, em uma reunião bilateral voltada ao fortalecimento de parcerias culturais e ambientais entre os dois países. O encontro reforçou o compromisso do Brasil em construir alianças internacionais para promoção da sustentabilidade, da diversidade e da inovação no campo cultural.
As ações do Ministério da Cultura na COP30 refletem o compromisso do Brasil em posicionar a cultura como parte das soluções globais para o clima, unindo memória, inovação e sustentabilidade para construir sociedades mais justas e conscientes.



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