O Rio de Janeiro, reconhecido em 2025 como Capital Mundial do Livro pela Unesco, foi palco da abertura do IX Encontro Ibero-Americano de Redplanes: Leitura, Diversidade e Democracia, nesta segunda-feira (13), no Museu de Arte do Rio (MAR). A cerimônia contou com a presença de Márcio Tavares, secretário-Executivo do MinC e ministro substituto da Cultura.
Márcio Tavares reforçou a importância da leitura como base da democracia e da inclusão social. “Falar de políticas de livro, leitura e literatura é falar sobre construção de cidadania. A leitura é ferramenta essencial para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa, crítica e democrática”.
“No Brasil, temos um compromisso firme e renovado com a democratização do acesso ao livro e à leitura. O nosso Plano Nacional do Livro e Leitura, o PNLL, que se encontra em fase final de construção para o decênio 2025-2035, reflete este compromisso histórico. Queremos garantir que cada vez mais brasileiros e brasileiras tenham acesso a bibliotecas, a livros e a programas de formação de leitores que respeitem e valorizem nossa diversidade cultural”, afirmou Márcio Tavares.
O representante do MinC celebrou ainda o título e Capital Mundial do Livro, concedido pela Unesco à capital carioca: “É a primeira vez que uma cidade de língua portuguesa é reconhecida com esse título”.
O Ministério da Educação (MEC) também apresentou ações em andamento. Anita Stefani, diretora de Apoio à Gestão Educacional do MEC, relembrou que o país conduz o maior programa de distribuição de livros didáticos e literários do mundo, com foco na diversidade e na formação de leitores desde a infância. “A leitura, o livro e a formação de leitores têm papel fundamental desde a alfabetização, desde a educação infantil. A leitura é um direito para ajudar a ler o mundo, a interpretar o mundo e a viver melhor”, salientou.
Para a diretora do Cerlalc, Margarita Cuéllar Barona, o compromisso dos governos com a cultura escrita e oral é essencial para garantir cidadania plena. “A leitura é um direito que permite que se tenha cidadania plena. E isso é democracia”, afirmou. Citando o escritor Paulo Freire, completou: “A leitura, fora da decodificação de signos, nos faz compreender a realidade. E só essa compreensão nos dá o poder de transformá-la. E essa é a nossa missão”.
No âmbito local, o Plano Municipal de Leitura do Rio de Janeiro foi citado como uma iniciativa estruturante, com quatro eixos principais — democratização do acesso, literacidade, indústria do livro e estímulo ao artista. Segundo Henrique Dau,gerente de Livro e Leitura da Secretaria Municipal de Cultura do Rio; a sustentação dessas políticas depende da valorização de iniciativas comunitárias.“A democratização do acesso à leitura depende do apoio às bibliotecas comunitárias. Se nós não apoiarmos essas iniciativas que mudam realidades locais, estaremos fadados ao fracasso. As políticas de leitura são para o cidadão, cujo hábito de leitura queremos estimular”, explicou.
Os discursos também refletiram sobre os desafios contemporâneos que impactam o setor do livro, como as transformações tecnológicas, a inteligência artificial, as brechas sociais e as mudanças climáticas. Alexander Leicht, diretor do Escritório Regional da Unesco para a América Central, México e Colômbia analisou que essas transformações exigem políticas adaptativas e cooperação internacional. “Ter e ver a colaboração internacional em prática de forma concreta é uma grande conquista. O setor do livro e da leitura é afetado pelas mudanças da sociedade — climáticas, tecnológicas e sociais — e precisamos responder a isso”.
Por sua vez, o diretor-geral da OEI, Raphael Callou, destacou a importância de manter o título de Capital Mundial do Livro associado a ações efetivas. “A leitura, a escrita e a oralidade são geradoras de oportunidades de bem-estar e desenvolvimento que beneficiam todos os setores da população. Fortalecer e posicionar o título de Capital Mundial do Livro com iniciativas palpáveis e objetivas, como a que a Redplanes propõe, se materializa neste encontro”, declarou.
Sobre o Encontro Ibero-Americano de Redplanes
O encontro, que se estende até o dia 16, reúne delegações governamentais e especialistas de 21 países para debater os desafios e caminhos comuns das políticas públicas de leitura na Iberoamérica. A iniciativa é promovida pelo Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e o Caribe (Cerlalc), em parceria com o MinC, o MEC e a OEI, com o objetivo de fortalecer a leitura, a escrita e a oralidade como instrumentos de cidadania e desenvolvimento democrático.
Em um cenário marcado por profundas desigualdades e crise de aprendizagem leitora, o encontro propõe renovar compromissos e estratégias de cooperação regional. Segundo o Cerlalc, a leitura deve ser tratada como um direito fundamental e uma ferramenta de inclusão social, capaz de ampliar o acesso ao conhecimento e reduzir as lacunas culturais e educacionais na região.
Durante os quatro dias de programação, o evento conta com palestras, painéis e debates com nomes de destaque, como Judith Kalman, Eliana Yunes, Altaci Corrêa Rubim, Conceição Evaristo, Roger Chartier e Inés Miret. Também serão lançados estudos e publicações estratégicas sobre políticas públicas e práticas de leitura, entre eles o Estudo Regional sobre Políticas Públicas e Planos Nacionais de Leitura, Escrita, Oralidade e Livro na Iberoamérica, desenvolvido pelo Cerlalc e pela OEI, e o guia “Planos Nacionais de Leitura, Escrita e Oralidade: Um Roteiro de Ação e Renovação para sua Formulação e Implementação”.
O evento marca ainda um momento simbólico para o Brasil, que ocupa a presidência do Conselho do Cerlalc e avança na formulação do novo Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL 2025–2035), a ser sancionado em breve. O plano estabelece metas para democratizar o acesso ao livro e consolidar a leitura como prática cultural e direito de todos os cidadãos.
FONTE