Os agentes territoriais de cultura começaram a terça-feira (18) inspirados pela experiência de dois influenciadores que se destacaram nas redes sociais ao unir a cultura, a comunicação e a economia. A plenária principal do Encontro do Programa Nacional dos Comitês de Cultura estava cheia de participantes atentos para ouvir o empresário e dono do Super Finanças, AD Junior, e o comunicador Denilson Cadête, fundador da página Seremos Resistência. A conversa foi mediada pela presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), Maria Marighella.
AD Junior provocou a plateia a pensar sobre a grandeza da função exercida pelos fazedores e trabalhadores da cultura, incentivando os agentes a estudarem e entenderem sobre finanças e orçamento, já que fazem parte de um grande ativo da economia do país.
“Vocês precisam entender que são parte da economia que fica. A nossa cultura é perene e ela fica. Ser fomentador de cultura é participar diretamente de uma economia bilionária. A minha conversa não é sobre fazer riqueza pessoal, e sim sobre nossa riqueza coletiva e como isso contribui para sociedade. Precisamos ter um olhar mais macro para a importância do que vocês estão fazendo. Parem de se sentir à margem”, declarou.
No mesmo contexto, Denilson Cadête lembrou que é preciso incorporar estratégias de comunicação ao trabalho da cultura, para entender formas de aumentar o alcance e o engajamento das ações.
“Ser mobilizador de cultura é também mobilizar a comunicação e disputar narrativas no nosso país. O nosso campo tem feito muita coisa, mas tem dificuldade de se comunicar. E vocês, agentes culturais, têm um papel fundamental de disputar narrativa a partir do território de vocês, destruindo fake news. Comunicação e cultura dão um match muito grande”, explicouAgente territorial em atuação na cidade de Serrinha (BA), Laila de Almeida, se mostrou contemplada pela Fala Inspiradora do dia e lembrou como o próprio Programa Nacional dos Comitês de Cultura movimenta a economia da cultura por meio das bolsas pagas aos agentes.“Acho massa falar sobre economia e sobre cultura porque a nossa luta é gerar rentabilidade. Estar no PNCC e ser agente territorial de cultura foi uma ascensão na minha vida. A bolsa ajuda a me movimentar e a movimentar as coisas na nossa vida”, contou.Cada um dos 601 agentes territoriais de cultura, selecionados por edital do Ministério da Cultura (MinC), recebem uma bolsa mensal de R$ 1.200 e um auxílio para inclusão digital de R$ 25, para manter a conectividade de internet. Além disso, cada um recebeu uma parcela única de R$ 1 mil para aquisição de equipamento digital.
Fala PNCCDepois da Fala Inspiradora, os agentes territoriais se dividiram em salas temáticas para debater entre eles assuntos que também têm relação com finanças e comunicação em projetos culturais. Na conversa sobre Economia da Cultura, a coordenadora do Comitê de Cultura em Pernambuco, Joana D’arc, citou os editais financiados pela Política Nacional Aldir Blanc como experiência bem sucedida para movimentar a economia no estado.“Para muito município foi a primeira vez que teve um edital, por meio da Aldir Blanc. Agora, são outros desafios, saber como isso está sendo implementado. Nós, enquanto comitês e agentes territoriais, precisamos atuar. O PNCC é certeiro nesse sentido, porque a gente vem conseguindo chegar naquelas pessoas que não sabem nem que tem direito à acessar esses editais”, disse.José Canoa, agente territorial em atuação no município de Lagarto (SE), é brincante do grupo Parafusos e pontuou as dificuldades da região. “São 75 municípios em Sergipe. Dentro desse contexto, a gente precisa mapear e acessar os fazedores de cultura dessas 75 cidades para levar informação. É um desafio”.
Na sala sobre Fomento à Cultura e Cidadania, o debate foi sobre o impacto nos vínculos comunitários e nas transformações de realidades locais. As falas evidenciaram que, em territórios onde não existem políticas estruturantes, coletivos culturais e produtores assumem papéis de gestão e mobilização. “A gente conseguiu manter as coisas se movimentando mesmo nas piores fases, porque acreditamos no poder transformador da arte”, resumiu Alessandro Cintra, agente territorial no Mato Grosso do Sul.
Em comum, os participantes reforçaram que acesso à cultura e participação social caminham lado a lado, produzindo pertencimento, autoestima e possibilidades de futuro. Eles destacaram também a importância dos conselhos municipais, dos planos e fundos de cultura como instrumentos que dão raiz e continuidade às ações — evitando que políticas sejam interrompidas a cada mudança de gestão.
Cultura e Desenvolvimento Social
A mesa temática Cultura e Desenvolvimento Social abordou o assunto a partir do Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC). Na atividade, Agentes Territoriais de Cultura (ATCs) de diferentes regiões do país compartilharam suas experiências. O painel foi mediado pelo coordenador do Escritório do Ministério da Cultura no Tocantins, Cícero Belém. “O PNCC veio para a gente resgatar a nossa cultura de base, as nossas tradições, que há muito tempo vinham se perdendo. Graças a essa política estamos trazendo todas aquelas pessoas que não eram vistas pelas políticas públicas. É um trabalho que o estado não conseguiu fazer, que é chegar na ponta, para quem precisa, a fim de criarmos uma teia e fortalecermos desde a comunidade até a área urbana”, destacou o ATC Danilo Benaion, do Amapá.
Integrante do movimento Hip-Hop e Agente Territorial de Cultura de Goiás, Kaemmy, salientou o impacto do Programa na vida dos fazedores de cultura. “Eu acho que a maior transformação que o programa causa é mostrar para quem está chegando a necessidade que o nosso país tem dos fazedores de cultura. Eu passei quase dez anos fazendo cultura para poder ter acesso a um edital de política pública, para entender o que era uma lei do incentivo. E hoje, como agente, a maior transformação que eu busco é essa: mostrar o valor que nós temos. A cultura pode virar uma renda na sua vida. E quem faz cultura no país merece o nosso respeito”, frisou.
Em sua atuação como Agente Territorial de Cultura de Parintins, Orlan Bertrand lembrou que um dos desafios na região é trazer a grandeza do célebre festival folclórico realizado no município para as políticas culturais e para a comunidade. Ele comparou como exemplo de economia criativa o Festival de Parintins, que segundo ele movimentou um terço dos R$ 500 milhões gerados pelo show de Lady Gaga no Rio de Janeiro, com uma infraestrutura de apenas 17 hotéis e 120 mil habitantes. “Aí você enxerga o potencial de uma ilha em coração da Amazônia, que tem um potencial gigantesco para transformar a vida das pessoas. Então, a transformação social, ela vem através da economia criativa e patrimonial, da dança, da música, das artes”, observou.
Plano Nacional e PatrimônioAs oficinas realizadas no período da manhã também mobilizaram em torno de temas importantes como o Plano Nacional de Cultura – enviado ao Congresso Nacional nesta segunda (17). Na sala conduzida pela subsecretária de Gestão Estratégica, Letícia Schwarz, em formato de roda de conversa, a equipe apresentou a estrutura do novo PNC e dialogou sobre o papel dos agentes territoriais em sua implementação. Na oficina, foi destacada a importância da atuação local, indicando que, para o Plano se concretizar, será necessária uma mobilização contínua com estados e municípios.Para falar sobre museu e patrimônio, a Fundação Casa de Rui Barbosa promoveu uma oficina com a participação do presidente da instituição, Alexandre Santini, e de Maria de Andrade, chefe do Arquivo Museu da Literatura Brasileira. A conversa destacou a relevância histórica e política de Rui Barbosa, além da formação da Fundação como museu-casa dedicado à preservação de documentos, peças e arquivos fundamentais para a memória cultural do país. A atividade apresentou ainda as possibilidades de acesso público ao acervo e à história preservada pela instituição.
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