O delegado Rogério Ferreira, titular da Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor (Decon), revelou na manhã desta terça-feira (20) detalhes da Operação Ilusion, que investiga os sócios da empresa Imagem Eventos, que fechou as portas em Cuiabá e cancelou formaturas já pagas, deixando um prejuízo de R$ 7 milhões a formandos de diversos cursos.
Os investigados criaram uma rede de empresas para dar aparência de legalidade, mas o esquema era fraudulento desde o início
A operação tenta prender os sócios da empresa Elisa Severino, 51 anos, e Márcio Nascimento, 49, que agora são considerados foragidos.
Um detalhe que chamou a atenção dos policiais foi a abertura de empresas em outros estados por parte do casal.
“Os investigados criaram uma rede de empresas para dar aparência de legalidade, mas o esquema era fraudulento desde o início”, afirmou o delegado.
Segundo as investigações, os donos administravam pelo menos outras quatro empresas no ramo de eventos em Mato Grosso do Sul, Pará e Paraíba – além de uma suposta empresa de roupas fitness pela internet, aberta por Elisa.
“As empresas que estão em seus nomes e as que acreditamos que eles são sócios, nós pedimos à Justiça a suspensão do registro. Elas vão deixar de existir para que não seja possível que eles apliquem novos golpes em outros estados. Se eles descumprirem essas ordens judiciais, terão novo mandato de prisão expedido contra eles”, afirmou o delegado.
“Eles planejaram o fechamento das empresas aqui em Cuiabá com meses de antecedência, montaram negócios em outros estados e retiraram da sede 23 cartões de memória com fotos de formaturas não entregues, tudo para continuar lucrando”, explicou Ferreira.
As investigações apontam que, a partir de setembro de 2024, o casal já articulava o encerramento das atividades. Em janeiro deste ano, dias antes do fechamento, lançaram promoções com descontos para pagamento adiantado e alteraram a forma de cobrança dos serviços.
“Antes, os clientes pagavam após a entrega dos materiais. Na reta final, passaram a exigir pagamento à vista, sabendo que não cumpririam os contratos”, explicou. Na véspera do anúncio do fechamento, uma das sócias ainda recebeu valores de pais de formandos na sede da empresa, já ciente de que no dia seguinte as portas seriam fechadas, disse o policial.
Os prejuízos atingiram principalmente turmas de Medicina, Odontologia e escolas públicas de Cuiabá, Várzea Grande e cidades do interior de Mato Grosso e Rondônia. “Cada formatura de Medicina gira em torno de R$ 2 milhões. Só o material fotográfico de um aluno pode custar R$ 30 mil”, destacou Ferreira.
Funcionários relataram que os donos retiraram equipamentos e arquivos dias antes do fechamento, incluindo HDs com fotos de eventos já pagos.
Rede de empresas
Além das empresas em outros estados, as investigações revelaram que o irmão de Márcio, sócio em negócios na Paraíba, teria ajudado a esconder parte do material apreendido nesta terça-feira. “Ele foi alvo de busca e apreensão, e recuperamos parte dos arquivos”, disse o delegado.
Sobre o material fotográfico e as suspeitas de empresas laranjas, o delegado foi enfático: “Um dos principais objetivos da Operação Ilusion é recuperar os cartões de memória com as fotos das formaturas, que foram retirados pelos investigados um dia antes do fechamento das empresas”.
Parte desse material já foi apreendida na Paraíba, mas ainda não se sabe se está completo. “Se for recuperado, pediremos à Justiça autorização para devolver às vítimas”, afirmou.
As investigações também apontam para uma possível rede de empresas laranjas tentando revender as imagens. “Recebemos relatos de que uma suposta ‘Laboratório Brasil’ entrou em contato com formandos oferecendo o material fotográfico já pago. Estamos apurando se essa empresa existe ou se foi criada pelos investigados para continuar o esquema”, explicou Ferreira.
O irmão de Márcio, cujo nome não foi revelado, é um dos investigados por suposta participação no sumiço dos arquivos. “Na residência dele, encontramos parte do material. Ainda não sabemos se houve venda para terceiros ou se estão usando ‘laranjas’ para comercializar ilegalmente”, completou o delegado, sem descartar novas medidas contra possíveis envolvidos.
A Polícia investiga se a mãe de Márcio, em nome da qual estava a Imagem Eventos, foi usada apenas como “laranja” para dificultar a responsabilização do casal principal.
“Ela foi alvo de busca e apreensão por precaução, mas não há indícios de que tenha participado dos crimes. A empresa estava em seu nome, mas quem realmente gerenciava eram os filhos”, afirmou Ferreira.
A Justiça determinou o bloqueio de R$ 7 milhões em bens – incluindo oito veículos – e a suspensão das atividades de todas as empresas ligadas ao casal. “Eles estão proibidos de atuar no ramo de eventos. Se descumprirem, terão nova prisão decretada”, alertou Ferreira.
Vítimas ainda esperam justiça
Enquanto as vítimas aguardam o ressarcimento – que depende do resultado dos bloqueios –, a Polícia tenta localizar Elisa e Márcio, cujo paradeiro é desconhecido.
“Eles não saíram do país, mas estão em outros estados. Agora, são foragidos”, afirmou o delegado. Para as mais de 250 vítimas que registraram BOs, a operação trouxe alívio. “Isso é uma resposta à sociedade. Eles frustraram sonhos e destruíram a confiança de centenas de pessoas”, concluiu Ferreira. “Eles venderam uma ilusão”.
Com informações da Polícia Civil, a investigação segue em andamento para apurar se outras empresas do casal cometiam fraudes similares. Os crimes investigados – estelionato, associação criminosa e violação às relações de consumo – podem render até 13 anos de prisão aos envolvidos.
Veja os vídeos: