O presidente russo Vladimir Putin falou hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, completando as chamadas telefônicas aos líderes dos outros membros fundadores do Brics (China, India, África do Sul e Brasil) antecedendo seu encontro com Donald Trump na semana que vem.
Putin e Trump vão se encontrar no Alasca, no que a Casa Branca vê como uma tentativa de garantir um acordo para pôr fim à guerra deflagrada por Moscou contra a Ucrânia. Trump chegou a sugerir ontem que um acordo de paz entre os dois países poderia incluir “alguma troca de territórios”.
A chamada telefônica de Putin durou cerca de 40 minutos, durante a qual ele compartilhou informações sobre suas discussões em curso com os Estados Unidos e os recentes esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia.
Segundo o Palácio do Planalto, Putin ‘agradeceu o empenho e interesse do Brasil nesse tema’. O presidente Lula, por sua vez, enfatizou que o Brasil ‘sempre apoiou o diálogo e a busca de uma solução pacífica e reafirmou que o seu governo está à disposição para contribuir com o que for necessário, inclusive no âmbito do Grupo de Amigos da Paz, lançado por iniciativa de Brasil e China’.
Lula e Putin discutiram o atual cenário político e econômico internacional. Falaram sobre a cooperação entre ambos os países no âmbito do Brics, o grupo dos grandes emergentes. Segundo o Planalto, Putin parabenizou o Brasil pelos resultados da Cúpula do Brics realizada no começo de julho no Rio de Janeiro. Na esfera bilateral, reforçaram a intenção de organizar a próxima edição da Comissão de Alto Nível de Cooperação Brasil-Rússia ainda este ano.
De seu lado, o Kremlin divulgou nota dizendo que o presidente do Brasil ”manifestou apoio aos esforços destinados a ajudar a resolver a crise na Ucrânia”.
E avança um pouco mais que a nota brasileira no bilateral, dizendo que Lula e Putin ”confirmaram sua vontade mútua de continuar fortalecendo a parceria estratégica entre a Rússia e o Brasil, bem como sua cooperação no âmbito do Brics”.
Putin acelera contatos diplomáticos com emergentes de peso que se aliaram à Rússia ou permaneceram neutras no conflito contra a Ucrânia, constatam observadores.
Putin já conversou com o presidente da China, Xi Jinping, com o primeiro-ministro da India Narendra Modi, com o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, e também com líderes da Bielorrusia, Cazaquistão, Uzbesquistão e Emirados Arábes Unidos.
Com o presidente sul-africano, o Kremlin informou que o lado russo ‘expressou seu apreço pela conhecida iniciativa de paz destinada a resolver a crise na Ucrânia, apresentada por vários países africanos, incluindo a África do Sul’.
Por sua vez, o primeiro-ministro da India agradeceu a Putin ‘pelas informações e confirmou a posição inabalável da Índia a favor da resolução da situação na Ucrânia por meios políticos e diplomáticos’.
Modi disse que os dois também revisaram o progresso ‘’em nossa agenda bilateral e reafirmamos nosso compromisso de aprofundar ainda mais a Parceria Estratégica Especial e Privilegiada Índia-Rússia”.
Trump aplicou uma tarifa adicional de 25% sobre produtos indianos por causa da compra pela India de petroleo russo, que ocorre a preços mais baixos. Nova Délhi sinalizou que não vai parar de comprar petróleo russo tão cedo. Ao mesmo tempo, congelou os planos de compra de armas dos EUA e cancelou uma visita de alto nível a Washington.
No caso do Brasil, até agora há ameaças, mas nada de sanções concretas. Cerca de 90% das importações vindas da Rússia são fertilizantes e diesel.