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Considerando o que o Brasil embarcou para os EUA em 2024, esses produtos somam cerca de 43,4% das exportações para o mercado americano.
Cerca de 3,8 mil itens ainda estariam sujeitos à sobretaxa de 50%.
Entre eles estão alguns produtos dos quais o Brasil é fornecedor relevante para os EUA, como café e açúcar orgânico.
As indústrias afetadas têm esboçado preocupação e calculado prejuízos diante da possibilidade de redução ou inviabilidade de exportação para os EUA.
Mas o que isso significa para o consumidor americano? O impacto deve ficar mais claro nos próximos meses.
A taxação pode, por exemplo, inibir a importação de produtos do Brasil, levando os EUA a tentar aumentar a produção interna, a buscar mercados substitutos ou, caso essas duas alternativas não sejam bem-sucedidas, a reduzir a oferta interna desses itens.
Nesse último cenário, se não houver redução da demanda, a menor oferta pode ter como consequência aumento de preços.
Em um cenário alternativo, no caso dos produtos em que o apetite de consumo dos americanos for menos sensível a aumentos de preço, as importações podem acontecer mesmo com a tarifa de 50%, que podem ser repassadas parcial ou totalmente ao cliente final.
Em uma análise publicada na segunda-feira (28/7), o The Budget Lab, centro de pesquisa da Universidade de Yale, previa, com todas tarifas anunciadas até aquela data, um aumento da inflação americana de 1,8% no curto prazo (antes de os consumidores mudarem seus hábitos em reação às tarifas, conforme o parâmetro usado pela pesquisa), o equivalente à perda de US$ 2.400 (cerca de R$ 13,4 mil) por domicílio em 2025.
A BBC News Brasil cruzou dados da lista de produtos tarifados com informações da US International Trade Commission (Comissão de Comércio Internacional dos EUA) e do Observatory of Economic Complexity (Observatório da Complexidade Econômica) para entender quais produtos podem ficar mais caros para os americanos diante da medida contra o Brasil.
Conheça 7 deles a seguir:
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Café
Os EUA são o maior consumidor de café do mundo e, com exceção de pequenos cafezais no Havaí e em Porto Rico, não produzem a commodity.
O Brasil é de longe o maior fornecedor, respondendo por cerca de um terço de tudo o que é importado pelos americanos.
Em entrevista recente à BBC News Brasil, o ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da consultoria BMJ Welber Barral pontuou que, justamente pela importância do café brasileiro na pauta de importação dos EUA, acreditava que o país teria dificuldade para encontrar um substituto.
A Colômbia é o segundo maior vendedor de café para os EUA e está sujeita a uma tarifa bem mais baixa que a do Brasil, de 10%.
Assim, ainda que houvesse um eventual aumento de interesse, os colombianos poderiam ter dificuldade de suprir um aumento de demanda. O mesmo vale para o Vietnã, o segundo maior produtor do mundo, com 17% do total.
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, chegou a falar nesta semana que produtos não cultivados em território americano poderiam entrar em uma lista global de itens isentos de tarifas. Não está claro, entretanto, quando essa decisão seria tomada e se produtos brasileiros seriam contemplados.
“Considerando que o café brasileiro pode ter um perfil de sabor único, produtores americanos não conseguem simplesmente produzir ‘café brasileiro’ nos EUA. Nessa situação, alguns consumidores podem optar por simplesmente pagar o preço de importação mais alto pelo café brasileiro, em vez de trocar por outro tipo”, diz o texto.
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Manga e goiaba
A análise do Tax Foundation destaca o Brasil como quarto maior fornecedor de alimentos para os EUA, com US$ 7,4 bilhões em importações, atrás de União Europeia (US$ 31 bilhões), México (US$ 17,6 bilhões) e Canadá (US$ 15,6 bilhões).
O México é o maior fornecedor, com US$ 550 milhões, seguido do Peru (US$ 96,9 milhões) e do Equador (US$ 56 milhões).
Os EUA cultivam manga em Estados como Flórida, Califórnia e Havaí, mas boa parte do consumo interno é suprido com importações. O mesmo vale para a goiaba, com cultivo modesto na Flórida, no Havaí e em Porto Rico.
Caso os EUA não consigam encontrar mercados alternativos onde as tarifas são menores e que consigam suprir a demanda, a menor oferta interna pode levar a um aumento de preços nos supermercados.
Na análise do The Budget Lab, a estimativa é que os preços de frutas e legumes cresçam 6,9% no curto prazo.
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Carne
O Brasil é o maior exportador de carne do mundo e responde por 23% das importações americanas do produto, segundo cálculo da Genial Investimentos.
Os EUA são o segundo maior mercado para o produto brasileiro, atrás apenas da China.
A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) já se manifestou dizendo que uma tarifa adicional de 50% poderia inviabilizar as vendas ao mercado americano.
Ao contrário do café e de frutas como a manga, no caso da carne os EUA são também um grande produtor.
Ainda assim, a equipe do The Budget Lab estima um aumento de cerca de 1,1% nos preços da carne bovina nos meses imediatamente seguintes à vigência do tarifaço.
O custo da carne nos EUA já vinha, aliás, atingindo valores recordes neste ano, antes da implementação das tarifas.
A alta, na opinião de especialistas, se deve a uma questão estrutural: enquanto o rebanho bovino se manteve relativamente estável nas últimas duas décadas, o consumo continua a expandir.
Se a tarifa de 50% tornar de fato proibitivas as importações de países como o Brasil, a dificuldade da indústria americana de suprir a demanda pode pressionar ainda mais os preços.
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Açúcar orgânico
No caso do açúcar orgânico, os EUA importam praticamente tudo o que consomem — e o Brasil foi responsável por 49% do que entrou no país entre 2023 e 2024, seguido do Paraguai (19%) e da Colômbia (13%), conforme os dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês).
A Organic Trade Association, que representa o setor de orgânicos dos EUA, alertou que o aumento de custo com as tarifas pode comprometer diversas cadeias de produção.
Para terem o selo de certificação de orgânico pela USDA, os produtos que levam açúcar têm que ser produzidos com açúcar orgânico.
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Chocolate
O cacau é outra commodity que os EUA praticamente não cultivam, à exceção de uma produção modesta no Havaí e em Porto Rico.
O Brasil, por sua vez, é importante fornecedor de manteiga de cacau para os americanos, uma das principais matérias-primas do chocolate.
Conforme os dados do Observatório da Complexidade Econômica, embarcou o equivalente a US$ 61,4 milhões do produto, ocupando o quinto lugar de uma lista que inclui Indonésia (US$ 308 milhões), Malásia (US$ 275 milhões), Peru (US$ 138 milhões) e Índia (US$ 88 milhões).
O preço do chocolate já vem subindo no mundo inteiro, devido especialmente ao impacto de condições climáticas adversas nas principais regiões produtoras de cacau, como o oeste da África, e a pragas como o cacao swollen shoot virus (CSSV).
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Carros
No estudo de impacto potencial das tarifas do The Budget Lab, os metais ocupam o primeiro lugar na lista de estimativas de aumento de preços, com 39,4% de alta nos meses seguintes ao tarifaço e 17,9% no longo prazo (quando os consumidores mudarem seus hábitos em reação às tarifas).
Essa alta deve ter impacto em diversos setores. Um deles é o automotivo, que usa uma série de commodities metálicas exportadas pelo Brasil.
O país é, por exemplo, o segundo maior fornecedor de aço aos EUA (atrás apenas do Canadá), e é o maior exportador de nióbio, muito usado nas ligas de aço que vão no chassi e na barra de proteção aos passageiros nas portas.
O aço, assim como o alumínio, já tinha sido alvo de uma tarifa global de 50% imposta em junho.
Encarecendo o preço das importações, Trump espera revitalizar a indústria siderúrgica americana, uma de suas promessas de campanha alimentadas pelo slogan Make America Great Again (“faça a América grande novamente”, em tradução literal).
A medida foi elogiada por associações de empresas e sindicatos do setor de aço, mas criticada por entidades que usam o produto como matéria-prima. Uma delas foi a que reúne os fabricantes de latas (Can Manufacturers Institute), que alertou para um possível aumento de preços de alimentos enlatados.
Trump já havia sobretaxado aço e alumínio em sua primeira gestão. Uma análise da Comissão de Comércio Internacional dos EUA pontuou que a medida chegou a ser benéfica para produtores do setor, mas que no agregado teve impacto negativo na economia por ter gerado aumento de preços de várias produtos, inclusive de veículos.