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Crédito, Yuri Gripas/EPA
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- Author, Marina Rossi
- Role, BBC News Brasil reporter
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou estado de emergência de segurança pública na capital do país, Washington D.C., nesta segunda-feira (11/8).
Assim, a polícia de Washington foi colocada sob controle federal, passando a ser comandada pela procuradora-Geral dos EUA, Pam Bondi, e policiais e agentes do FBI foram enviados às ruas. A Guarda Nacional também foi convocada.
Chamando a ação de “dia da libertação” da capital, Trump afirmou, em entrevista coletiva, que é hora de “ações drásticas”, para expulsar moradores de rua e prender “jovens criminosos”.
Em uma série de postagens na rede Truth Social, o presidente americano afirmou que planeja tornar a cidade “mais segura e mais bonita do que nunca”.
Ele disse que Washington, D.C. foi “tomada por gangues violentas e criminosos sanguinários”, bem como por “maníacos drogados e moradores de rua”.
Em reação às medidas, um protesto se formou em frente à Casa Branca, atraindo dezenas de pessoas que gritam coisas como “tirem as mãos de Washington, D.C.” e “protejam o governo autônomo”, segurando cartazes com os dizeres “Libertem Washington, D.C.”.
Números em queda
Os índices de violência na capital do país não corroboram a tese de Trump. Em 8 de agosto de 2025, os registros da polícia local mostram uma redução de 7% em todos os crimes no ano até o momento, com o número total de crimes violentos caindo 26% em relação a 2024.
Os homicídios diminuíram, com uma queda de 12% nos assassinatos no mesmo período.
Os crimes de roubo de carro também diminuíram, desta vez em mais de 1/3, com uma queda de 37%.
No domingo, Trump escreveu em suas redes sociais que “Os sem-teto precisam sair IMEDIATAMENTE” de Washington D.C. e “queremos nossa capital DE VOLTA”.
Donald Whitehead, diretor executivo da Coalizão Nacional para os Sem-teto, disse que Trump está confundindo a falta de moradia com o crime, acrescentando que as pessoas sem-teto têm maior probabilidade de serem vítimas de um crime do que de cometer crimes.
Ele afirmou que, quando os acampamentos onde as pessoas sem-teto vivem são realocados, a criminalidade, na verdade, aumenta em vez de diminuir. Para Whitehead, a falta de moradia aumentou em todo o país — e Washington, D.C. não é exceção.
“Há atualmente cerca de seis mil pessoas em situação de rua em D.C.”, disse ele à BBC.
Ele afirma que a falta de moradia aumentou devido a problemas estruturais maiores, como o aumento do custo da moradia.
“O presidente prometeu lidar com os preços e a inflação, e não vimos isso”, diz Whitehead. Whitehead diz estar “muito preocupado” com o local para onde Trump levará as pessoas sem-teto em D.C., como prometeu fazer.
Ainda no domingo, já era possível encontrar agentes federais pela cidade, como agentes do FBI, da Agência Antidrogas (DEA, na sigla em inglês) e da Patrulha de Fronteira dos EUA. Cerca de 450 policiais federais foram mobilizados já no domingo.
A Guarda Nacional deve chegar ao longo desta semana. O envio dessa força policial já havia ocorrido em junho, quando Trump ordenou que dois mil fossem para Los Angeles para lidar com as reações causadas pelas batidas policiais contra imigrantes sem documentos.
Esta é uma decisão geralmente tomada apenas pelo governador de um Estado. Na época, o gabinete do governador de Los Angeles, Gavin Newsom, classificou a tomada de poder por Trump como “propositalmente inflamatória”, alertando que “só aumentaria as tensões”.
A última vez que tal medida foi usada em Washington, D.C. foi em resposta aos distúrbios de 6 de janeiro de 2021, quando multidões de apoiadores de Trump invadiram o Capitólio dos EUA.
Antes da posse de Joe Biden, que ocorreu pouco mais de uma semana depois, membros da Guarda Nacional foram enviados em massa à capital dos EUA para impedir qualquer repetição dos distúrbios mortais.
Crédito, Jim Lo Scalzo/EPA
Trump também planeja voltar sua atenção para a “limpeza” da capital, que, segundo ele, está se tornando “mais suja e menos atraente” sob a gestão da prefeita democrata de D.C., Muriel Bowser.
Bowser que é democrata, rejeitou, por sua vez, as alegações de Trump de que a capital é infestada de crimes.
“Não estamos vivenciando um pico de crimes”, disse ela à MSNBC no domingo.
A prefeita admite que houve um aumento “terrível” na criminalidade em 2023, mas, depois disso, a violência atingiu o menor nível em 30 anos, com uma queda 26% dos crime violentos em 2025 em comparação com 2024.
“O presidente está muito ciente dos nossos esforços”, afirmou a prefeita.
Quando questionada sobre o comentário do vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, de que Washington era mais violenta que Bagdá, Bowser respondeu que “qualquer comparação com um país devastado pela guerra é hiperbólica e falsa”.
Análise: ‘Para Trump, as aparências são tão importantes quanto as estatísticas’
Donald Trump inicia a semana com um novo impulso para combater o que ele chama de crimes violentos desenfreados e a falta de moradia em Washington, D.C.
As estatísticas federais sobre criminalidade não dão muito suporte às suas alegações, pois indicam que as taxas de criminalidade na capital do país estão em seus menores níveis em 30 anos, significativamente abaixo do pico pós-pandemia em 2023. Os números de Washington refletem uma tendência nacional de queda da criminalidade nos últimos dois anos.
Para Trump, no entanto, as aparências podem ser tão importantes quanto as estatísticas. Acampamentos de moradores de rua são visíveis em partes de Washington, como o presidente documentou com fotos compartilhadas em suas redes sociais. Um recente ataque noturno a um importante funcionário do Departamento de Eficiência Governamental também parece ter chamado a atenção de Trump.
Democratas nas principais cidades dos EUA também têm debatido sobre como lidar com a falta de moradia e, embora a criminalidade esteja diminuindo em Washington, a cidade está lidando com casos notórios de jovens infratores, incluindo a imposição de toques de recolher em distritos populares de entretenimento.
Questões de “lei e ordem” têm sido tradicionalmente um foco popular para os conservadores – e o próprio Trump tem feito campanha com base nisso há mais de uma década. Com resultados de pesquisa em queda, uma onda recente de notícias econômicas desanimadoras e críticas sobre sua condução de questões relacionadas ao caso de prostituição de menores de idade de Jeffrey Epstein, o presidente pode estar buscando uma maneira de alcançar um terreno político mais confortável.
* Por Anthony Zurcher, correspondente na América do Norte.
O que é a Lei de Autonomia do Distrito de Columbia?
D.C. é a sede do governo federal e também a única cidade dos EUA que não faz parte de nenhum dos 50 Estados americanos.
Isso significa que não tem representação no Congresso. Foi governada por comissários presidenciais até 1973, quando o ex-presidente Richard Nixon instituiu a “Lei de Autonomia do Distrito de Columbia”, permitindo que os moradores elegessem um conselho municipal e um prefeito.
Mas também reserva alguns poderes ao presidente e ao Congresso.
A Lei de Autonomia afirma que o presidente pode assumir o controle da força policial da cidade se “existirem condições especiais de natureza emergencial”.
No entanto, se o presidente pretender assumir o poder por mais de 48 horas, precisará notificar o Congresso por escrito. Mesmo que notifique, ele não poderá manter o poder por mais de 30 dias.
Com reportagem de Gareth Evans, Sakshi Venkatraman, Nomia Iqbal