A pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que os ministros do Centrão defendam mais o governo das críticas dos dirigentes de seus partidos provocou ainda mais insatisfação em parte das legendas. A cúpula nacional do União Brasil já fala em discutir a entrega de cargos na próxima reunião da Executiva Nacional do partido, marcada para a semana que vem.
A decisão vai ser centrada no ministro do Turismo, Celso Sabino, que é o único formalmente filiado à legenda no primeiro escalão. Os chefes das pastas das Comunicações, Frederico Siqueira Filho, e da Integração Nacional, Waldez Góes, que são indicações do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), não serão alvos da determinação.
— Já passou da hora de a decisão ser tomada — disse ACM Neto, vice-presidente da legenda.
De acordo com relatos de integrantes do partido, o assunto ganhou força com cobranças dos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e de Mato Grosso, Mauro Mendes, em um grupo de WhatsApp do partido após as falas de Lula. A articulação para o desembarque ganhou força então entre os membros da Executiva.
Segundo integrantes da legenda, Sabino mandou diversas mensagens no grupo reclamando da pressão pela saída e defendendo o governo, mas estava em minoria.
Mesmo assim, com exceção dos votos contrários do próprio Sabino e de outros poucos nomes da Executiva, como Alcolumbre e o ex-ministro das Comunicações Juscelino Filho, o União espera amplo apoio para aprovar o desembarque. Integrantes do partido só veem duas soluções para o ministro do Turismo: sair do cargo ou do partido. Ele, no entanto, vem resistindo.
— Nós temos muitos filiados no Brasil inteiro que devem caminhar na eleição com o presidente Lula, em diversas regiões do país. Eu não vejo razão para antecipar uma discussão, com um prazo tão distante. Falta um ano para as convenções partidárias — disse Sabino.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, minimizou a pressão de ACM Neto, seu adversário político na Bahia. O titular da pasta, no entanto, voltou a cobrar em entrevista nesta quarta-feira que os representantes do primeiro escalão defendam a gestão Lula.
— Ele [ACM Neto] diz isso há um ano — afirmou Costa ao GLOBO.
Na reunião ministerial de terça-feira, além de cobrar os ministros, Lula disse acreditar que não vai ter o apoio do União em 2026 e que não gosta pessoalmente do presidente do partido, Antonio Rueda. Em resposta, o dirigente afirmou nas redes sociais que “na democracia, o convívio institucional não se mede por afinidades pessoais, mas pelo respeito às instituições e às responsabilidades de cada um”.
Dirigentes dizem que a previsão inicial era discutir a entrega de cargos após a federação com o PP ser avalizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas que as falas de Lula provocam uma “situação constrangedora” para o partido e também para o governo e que não daria para ficar os próximos meses tendo um filiado na Esplanada.
Por outro lado, o PP ainda não tem nenhuma reunião prevista para deliberar sobre o assunto. O ministro do Esporte, André Fufuca, que é do partido, já disse a interlocutores que não vai sair da legenda e minimizou as discordâncias, avaliando que é algo natural para um partido grande.
Do lado do Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, citado por Lula como possível concorrente em 2026, o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, também descarta sair da sigla e do cargo e já disse que comunicou à legenda que vai apoiar Lula em qualquer cenário.
— O que o partido tem colocado é que só vai tratar de 2026 em 2026. A gente tem de aguardar esse movimento de Tarcísio, se é candidato, se não é, se sai do Republicanos e vai para o PL… Eu vou estar com o presidente Lula, já disse isso a Marcos Pereira [presidente do Republicanos] — disse Costa Filho na segunda-feira.